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Getúlio Vargas e a imprensa: uma relação conflituosa

Caminhão de propaganda eleitoral. (RJ), entre 9 ago e 30 set 1950. Ao iniciar sua volta ao poder em 1951, Vargas não contou com o apoio da imprensa escrita e falada de maior circulação no país. Sua campanha política foi feita com a utilização de caminhões equipados com alto-falantes e de volantes impressos que divulgavam seu programa de governo. A imprensa, na verdade, atacou violentamente as propostas políticas, econômicas e sociais do candidato Vargas. Essa recusa em apoiar a volta de Vargas estava referenciada principalmente ao período do Estado Novo, quando se criou uma imagem negativa do ditador entre intelectuais e jornalistas. Estes últimos se lembravam de que a Constituição de 1937 abolira a liberdade de expressão do pensamento e de que todos os meios de comunicação foram então submetidos à censura.
Alzira Vargas do Amaral Peixoto lendo um exemplar do jornal Última Hora. s.l. 1952 Para divulgar as realizações de seu governo, Vargas incentivou a criação da Última Hora, jornal inovador que introduziu uma série de técnicas de comunicação de massa até então desconhecidas no Brasil. A Última Hora, criada pelo jornalista Samuel Wainer em junho de 1951, além de contar com recursos advindos do banqueiro Walter Moreira Sales e do Banco Hipotecário de Crédito Real de Minas Gerais, obteve apoio do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal. Obter recursos do governo não era algo excepcional, já que a maioria das empresas jornalísticas do país dependia da importação de papel, que era subsidiada pelo governo. De modo geral, a modernização dos veículos de comunicação se fazia com empréstimos de bancos oficiais.
Jornalista Samuel Wainer e o presidente Getúlio Vargas. Campos do Jordão (SP), jan. 1951. As críticas da imprensa ao governo Vargas eram muito mais de natureza política e administrativa do que econômica. O jornal O Estado de S. Paulo, por exemplo, não fazia críticas à política do ministro da Fazenda Horácio Lafer, industrial paulista que tinha grande prestígio junto ao jornal. As críticas à política econômica incidiam, muitas vezes, sobre a orientação nacionalista e as restrições ao capital estrangeiro adotadas pelo governo.

A oposição a Vargas se intensificou a partir de 1953 e teve na imprensa a liderança dos jornalistas Carlos Lacerda, proprietário do jornal Tribuna da Imprensa, e Assis Chateaubriand, proprietário dos Diários Associados. Carlos Lacerda utilizou, além do seu jornal, a Rádio Globo e a Rede Tupi de televisão, esta pertencente aos Diários Associados.

O clima de confronto entre a oposição e o governo culminou no atentado a Carlos Lacerda, e 5 de agosto de 1954. A partir desse episódio deu-se a mobilização da imprensa, que de modo geral manifestou-se em editoriais contra a permanência de Vargas à frente do governo. A observação do comportamento dos diversos jornais do período mostra, contudo, algumas diferenças no tratamento do governo e da crise.
Jornais como o Diário Carioca, o Diário de Notícias, O Estado de S. Paulo e o Correio da Manhã, mesmo adotando um discurso de defesa dos preceitos formais do regime democrático e buscando soluções dentro da lei, nunca aderindo, portanto, a um golpismo declarado, fizeram dura oposição ao governo Vargas, antes e depois do atentado a Carlos Lacerda. Esses jornais evoluíram ao longo da crise, passando, logo após o atentado, a acusar o presidente da República de responsável pelo crime da Tonelero e a pedir sua renúncia. Já os jornais O Globo, O Jornal e Folha da Manhã tiveram um comportamento menos emotivo e mais objetivo no tratamento dos acontecimentos. Em nenhum momento esses jornais atribuíram a Vargas a responsabilidade direta pelo atentado, e muito menos advogaram uma solução unilateral ditada pelas Forças Armadas. O apelo à renúncia só ocorreu às vésperas do suicídio.

A população foi informada do suicídio de Vargas pelo rádio. Foi o Repórter Esso, da Rádio Nacional, que, em edição extraordinária, deu a notícia. Foram as estações de rádio de todo o país que divulgaram os detalhes do episódio e a Carta-testamento deixada por Vargas. No Rio de Janeiro, o jornal Última Hora foi o primeiro a sair com a notícia, em duas edições extras. O Globo e a Tribuna da Imprensa tiveram dificuldade de circular, pois a população tentou impedir sua distribuição, mas de toda forma noticiaram com destaque o ocorrido. Analisando a posição de O Globo durante esse período, parece incompreensível a reação popular desencadeada contra o jornal, que mantinha uma orientação mais moderada, se comparada à dos demais. Entretanto, a Rádio Globo, pertencente ao mesmo proprietário, mantinha uma posição extremamente radical contra Vargas, expressa através do programa Parlamento em Ação, do radialista Raul Brunini, que dava cobertura às posições de Carlos Lacerda e da UDN. O jornal acabou sofrendo represálias por conta das posições da rádio.

É importante observar que nesse acontecimento os principais órgãos de imprensa, com algumas exceções, atuaram decisivamente tanto na formação de um consenso a respeito da inviabilidade política e moral da preservação do mandato de Getúlio Vargas, quanto na intermediação do diálogo entre os diferentes grupos das elites políticas para a resolução do impasse. A imprensa fez um apelo no sentido da manutenção da ordem constitucional, ou seja, do respeito à lei. Pediu a renúncia de Vargas, mas também a continuidade constitucional através da posse do vice-presidente.
Alzira Alves de Abreu

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