(Foto ilustração: Google) |
Na
década de 80, durante a efervescência de uma campanha eleitoral, fui convidado
a participar do comício de um político local bastante conhecido. O evento foi
realizado em frente ao Hotel Dom Bosco, em palco improvisado sobre a carroceria
de um caminhão, voltado para a Praça do Amparo. Era noite de quarta-feira, a
rua estava repleta de espectadores, criando um ambiente festivo para os
moradores da localidade.
Naquela
época, era permitida a distribuição de brindes como camisetas, bonés e
realização de shows artísticos. A rua estava decorada com cartazes dos
candidatos a prefeito e vereador, imagens coladas nas paredes, postes
enfeitados com bandeirinhas suspensas em cordões cruzando de um lado para o
outro. A iluminação amplificava o cenário proporcionando o ambiente perfeito
para o evento político.
Os
candidatos a vereador circulavam entre o público, distribuindo panfletos,
cumprimentando eleitores e apresentando suas metas. Alguns, com recursos mais
abundantes, faziam ofertas extravagantes para conquistar votos: frangos
abatidos, materiais de construção, utensílios domésticos e até mesmo próteses
dentárias. Cabos eleitorais, tanto homens quanto mulheres, se empenhavam
fervorosamente. Os futuros parlamentares competiam pela atenção dos eleitores
como noivas ansiosas na noite de núpcias.
Um
conhecido amigo da cidade, Arivaldo, morador do bairro Botequim, tinha uma
resposta astuta quando questionado sobre seu candidato: "Ninguém ainda
veio conversar comigo" (resposta acompanhada de movimento com o polegar e
o indicador).
Naquela
noite, o entretenimento era o cantor de emboladas Zequinha Repentista,
residente no bairro do Porto D'Areia, que apresentou uma série de emboladas em exaltação
ao candidato majoritário.
Subi
no palco improvisado (carroceria de caminhão), fiquei sentado atrás. O
locutor-apresentador, Tuty, convidou o primeiro orador, que não era candidato,
mas sim, um apoiador, que estava mais enfeitado que carroça de cigano. Parecia
estar em transe, discursava sem parar. Alguém da coordenação da campanha,
discretamente, sinalizou para ele encerrar a oratória, mas o homem estava
desembestado.
Arivaldo,
sempre brincalhão, em cima da carroceria também, interveio: deu uma dedada no
fiofó do orador, que o fez se assustar, em meio ao espanto, sua prótese
dentária pulou da boca — um momento de leve descontração para o público -, o
orador, rapidamente, se abaixou para pegá-la, quando a costura traseira de suas
calças cedeu, provocando risadas no palco.
Sem
se deixar abalar pela situação, ele recolocou a prótese, ajeitou suas calças,
apertou o cinto e, para surpresa geral, a fivela se soltou (outra cena
hilária). Com uma mão no microfone e a outra segurando as calças, ele concluiu
seu discurso. Um cidadão conhecido como Mingo, da Cidade Nova, diante da cena,
não conteve a zombaria e brincou: "Eh, peida, Lídia".
Por:
Genílson Máximo
Abril
de 2017
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