Pular para o conteúdo principal

O SAMBA FOI TÃO CONTAGIANTE QUE O FEZ DESFILAR DESCALÇO

 
Era mês de Carnaval e Estância se destacava pelo seu brilhante carnaval de rua. Entre as escolas de samba locais, a Escola de Samba Mangueira e a Escola Amantes do Samba eram as mais renomadas. Estávamos em 1994, e a cidade de Aracaju realizava o desfile das escolas de samba, um evento que atraía foliões e entusiastas para a Avenida Barão de Maruim.

Naquela época, Jackson Barreto ocupava o cargo de prefeito de Aracaju. Sua administração foi empenhada na realização do carnaval de rua. No entanto, aquele seria o seu último Carnaval como prefeito, pois nesse ano renunciou ao cargo para concorrer ao governo do estado, passando o bastão para o vice-prefeito Almeida Lima. Na eleição daquele ano, Jackson Barreto obteve 347.838 votos pelo PDT, enquanto Albano Franco venceu com um total de 371.782 votos, no segundo turno.

A Escola de Samba Mangueira, que teve suas origens sob uma mangueira no proletário bairro Santa Cruz, havia conquistado vários prêmios ao longo dos anos, tornando-se tricampeã. Devido a esse sucesso, a escola foi convidada a participar do Carnaval da capital. O convite entusiasmou o Sr. Zé de Ló, presidente da agremiação, que não mediu esforços para garantir apoio e colocar a escola na estrada, recorreu ao empresário Jorge Leite, foi atendido.

Mais de 200 componentes da escola foram transportados em ônibus, enquanto as alegorias foram transportadas em uma carreta. Ao chegarem à capital, enfrentaram algumas dificuldades para organizar as alas e desembarcar as alegorias, mas, no final das contas, tudo deu certo após muitos desafios.

O desfile finalmente começou  por volta das 16h, a grandiosidade da Mangueira na avenida eclipsou as outras escolas de samba da capital. Diante disso, a Comissão Organizadora decidiu que a Mangueira não competiria, mas desfilaria na condição de convidada especial. Houve um princípio de desentendimento entre os organizadores do evento e  diretores da escola, mas as rusgas foram resolvidas. A Mangueira demonstrou beleza, encanto, habilidade no samba, com sua rainha da bateria, porta-bandeira, mestre-sala, samba-enredo, comissão de frente, fantasias e alegorias. Não se fez de rogada!

O ex-vereador Alcides José dos Santos, conhecido como ABC, pentacampeão sergipano pelo Santa Cruz Esporte Clube, era um grande admirador da Mangueira e  naquele desfile fazia parte da Comissão de Frente da escola. Pouco antes do desfile, ele pediu para deixar os sapatos no meu carro, pois causavam bolhas desconfortáveis ​​em seus pés. Ele seguiu descalço, mantendo todo o seu charme ao longo do percurso.

O desfile foi extenuante e longo, e apesar da excitação, todos os participantes estavam exaustos, especialmente aqueles que empurravam as alegorias. No entanto, a apresentação da Mangueira naquela tarde foi realmente espetacular.

Após o desfile, o presidente Zé de Ló convidou todos os componentes para um lanche próximo dali. ABC, ainda descalço, estava desconfortável com a situação e não conseguia se lembrar com quem havia deixado seus sapatos, já era por volta das 19h30.

Quinze dias depois, os sapatos ainda estavam no meu carro. Procurei ABC para devolvê-los, pois não o encontrei mais na noite do desfile. "ABC, você não quer mais seus sapatos?", perguntei. "Que sapatos?" Ele não se lembrava. Devolvi-os.

Ele me contou que esses sapatos foram confeccionados pelo artesão Zé Sapateiro, encomendados especialmente para o desfile, feitos de couro de excelente qualidade, de forma 46.

Alcides José dos Santos, o ABC, foi  uma figura marcante na história do futebol sergipano e na política de Estância, permanece como recordista, com nove mandatos consecutivos como vereador. Nasceu em 01 de abril de 1925, na cidade de Riachuelo, Jogou no Riachuelo Futebol Clube, também no Santa Cruz Esporte Clube, onde conquistou o pentacampeão nos anos 1956, 1957, 1958,  1959, 1960. Infelizmente, faleceu em 31 de outubro de 2004, aos 79 anos.
 


Em 20 de setembro de 2023.
Genílson Máximo.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Estância lamenta a perda irreparável de Riviany Magalhães, ícone da Educação Municipal

  A cidade de Estância está profundamente abalada com a precoce e trágica perda da professora Riviany Costa Magalhães, vítima de um acidente na BR-101. Mestre em Educação, Pedagoga, Psicopedagoga, Advogada e ex-secretária Adjunta da Educação, Riviany deixou um legado significativo para a educação do município. Sua partida inesperada representa uma perda imensa, não apenas pela vasta contribuição profissional, mas também pela presença acolhedora que exercia nas escolas municipais, onde, com dedicação, transformava a vida de alunos, colegas e toda a comunidade. Riviany não era apenas uma educadora, era um símbolo de afeto, compromisso e competência. Sua trajetória, interrompida de forma abrupta, deixou todos profundamente consternados, pois ainda havia muito a ser oferecido. A ausência de Riviany é sentida de forma irreparável, mas seu exemplo continuará vivo, servindo de inspiração para todos que tiveram o privilégio de conhecê-la. O prefeito Gilson Andrade e o vice-prefeito André G

Os cabarés de Estância, os homens de bem e o falso moralismo

Sem a menor pretensão de estar escrevendo algo original, singular, adianto que a minha motivação   para juntar esse monte de letras que chamo de texto, são as obras de Gabriel Garcia Marques, “Memórias de Minhas Putas Tristes”, as de Jorge Amado, “Teresa Batista Cansada de Guerra”, e Gabriela Cravo e Canela, assim como as músicas, “Cabaré” de João Bosco e Aldir Blanc, “Folhetim” de Chico Buarque de Holanda e “Geni e o Zepelim” também de Chico Buarque. Farei   observações sobre as profissionais do sexo, ora como putas, ora como prostitutas, ou qualquer outro sinônimo, seguindo o vocabulário de cada época. Escrever sobre personagens do andar de cima ou do andar de baixo é uma opção ideológica e não literária em minha opinião, por isso escolhi mais uma vez escrever sobre gente discriminada, gente que apesar do trabalho que exercia, tinha mais dignidade do que se imagina. Estou me referindo aos proprietários de cabarés. Quanto mais lemos, quanto mais estudamos as obras de Jorge

Estância e as suas ruas de nomes pitorescos

Capitão Salomão, centro Por: Genílson Máximo Estância, traz de pia, nome   que  converge em  ascensão ao substantivo feminino. Nome que  agrada ouvir sua sonoridade e que não o é cacófato. Por conta da sua simbiose com o município de Santa Luzia - do qual  foi povoação - quiçá, recebeu do mexicano Pedro Homem da Costa o nome de Estância, talvez  por ser  um local de paragem, de descanso quando das viagens de comércio entre outros  os povos da época. Denominada pelo monarca  Dom Pedro II como o Jardim de Sergipe,  Estância guarda na sua arquitetura os sobrados azulejados, possui um belo acervo arquitetônico, apesar das constantes perdas provocadas por destruições e mutilações de prédios históricos. Estância  das festas juninas, do barco de fogo, dos grupos folclóricos. Estância composta  por nomes de ruas que rasgam o tempo, mesmo com  as constantes mudanças de nomes, continuam vivos no consciente popular  com os seus  pitorescos  nomes. O programa "Sábado Esperança&