Pular para o conteúdo principal

DA USINA CEDRO PARA O PORTO D'AREIA


 
Na efeméride de 1967, minha progenitora empreendeu uma migração que passou da pitoresca localidade do povoado Cedro, situada em Santa Luzia, para o bairro Porto D'Areia, no notável município de Estância. Tal deslocamento se deu sob a sombra de situações econômicas prementes, uma vez que a Usina Cedro, outrora pujante, experimentou o descimento de sua produção, ao passo que sucedeu ter que dispensar uma parcela de seu campo de trabalho. Nesse período, os engenhos tradicionais, artifícios de produção açucareira, foram progressivamente absorvidos pelas fábricas avançadas de açúcar industrial.

Os honoráveis ​​senhores Adelson e Josafá, eminentes proprietários da usina mencionada, distinguiram-se pelo tratamento benevolente destinado aos seus operários, que, além de suas tarefas, tinham o privilégio de cultivar seus plantios, bem como residir em moradias funcionais fornecidas pela usina.
Nas imediações da usina, aos domingos pela manhã, acontecia uma modesta feirinha onde os trabalhadores adquiriam os insumos necessários para o lar. Essa feira, meticulosamente organizada pelos dirigentes da usina, se destacou por comercializar produtos oriundos das habilidosas mãos dos familiares dos operários do engenho. Não muito longe dali, encontrava-se um ponto conhecido como 'Rapa Pau', abrigando algumas habitações e uma mercearia pertencente ao Sr. Lalu, também funcionário da usina.

Nos arredores dos povoados Cedro, Botequim, Piaçava, Feirinha, Areia Branca, Gonçala e Murici, os finais de semana foram marcados por celebrações vibrantes, com bailes de forró pé de serra, apresentações de reisados ​​e o tradicional Boi de Função, sob a direção do renomado Mané de Terto. No povoado Feirinha, o Sr. João Milunga liderava eventos como torneios de futebol e bailes de forró. Essas comunidades viveram profundamente entrelaçadas com a presença vital da usina Cedro.

Após deixar o acolhedor povoado Cedro, vivenciei quase três décadas de minha existência no pitoresco bairro de Porto D'Areia. Ali, passei toda minha infância e adolescência em busca de conhecimento nas renomadas instituições educacionais, como a Escola Gilberto Amado, a Escola Técnica do Comércio, a Escola Professor Azarias, a Escola Gumercindo Bessa, além de experiências de aprendizado suplementares, como o Supletivo e o SESI. Ao longo desse percurso, trabalhei na Fábrica de Tecidos Piauitinga, no Consórcio Acabamentos, na prefeitura, na Sulgipe, na Rádio Esperança, na Câmara de Vereadores, em duas legislaturas distintas e fui Assessor da Assembleia Legislativa.

Durante muitos anos, parte da comunidade do Porto D'Areia sustentou-se por meio da pesca, com famílias inteiras envolvidas na atividade, adquirindo os peixes das imponentes canoas que atracavam nos degraus do cais local. Destacavam-se pescadores notáveis ​​como Totinha, Zé Raimundo de Bu, Zé Pequeno, Zé Vaqueiro, Pepa, Seu Dil, Seu Filomeno, Zé de Rau, Tonho Pulu, Pirão, Carlito, Raimundo de Beru e Pedro Cururu, responsáveis ​​pela abundância de pescado no cais do bairro.

No período junino, os pescadores dividiam o tempo entre a pesca e a confecção de fogos de artifício, como os famosos buscapés e os barcos de fogo. Contudo, com a progressiva redução do rio Piauí e a escassez de peixes, a comunidade viu-se obrigada a buscar outras fontes de renda, empregando-se no comércio, na indústria, realizando ou trabalhos eventualmente, conhecidos como 'bicos', nas áreas de construção, segurança, feiras-livres, entre outras.

Essa comunidade agraciada tem como padroeiro São Pedro, venerado Chaveiro do Céu, cuja presença divina se manifesta por meio de um imponente cruzeiro no Alto da Conceição. Esse monumento tinha como finalidade acolher calorosamente aqueles que desembarcavam nas margens do rio Piauí, inclusive o monarca D. Pedro II, que uma vez visitou nossa linda cidade.

O Porto D'Areia ostenta o status de um dos mais importantes centros culturais do Estado de Sergipe, preservando a essência da Cultura Junina e acolhendo os mais notáveis ​​​​fogueteiros, emboladores e repentistas.




Por Genilson Máximo
Em 17 de abril de 2014.
 
 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Estância lamenta a perda irreparável de Riviany Magalhães, ícone da Educação Municipal

  A cidade de Estância está profundamente abalada com a precoce e trágica perda da professora Riviany Costa Magalhães, vítima de um acidente na BR-101. Mestre em Educação, Pedagoga, Psicopedagoga, Advogada e ex-secretária Adjunta da Educação, Riviany deixou um legado significativo para a educação do município. Sua partida inesperada representa uma perda imensa, não apenas pela vasta contribuição profissional, mas também pela presença acolhedora que exercia nas escolas municipais, onde, com dedicação, transformava a vida de alunos, colegas e toda a comunidade. Riviany não era apenas uma educadora, era um símbolo de afeto, compromisso e competência. Sua trajetória, interrompida de forma abrupta, deixou todos profundamente consternados, pois ainda havia muito a ser oferecido. A ausência de Riviany é sentida de forma irreparável, mas seu exemplo continuará vivo, servindo de inspiração para todos que tiveram o privilégio de conhecê-la. O prefeito Gilson Andrade e o vice-prefeito André G

Os cabarés de Estância, os homens de bem e o falso moralismo

Sem a menor pretensão de estar escrevendo algo original, singular, adianto que a minha motivação   para juntar esse monte de letras que chamo de texto, são as obras de Gabriel Garcia Marques, “Memórias de Minhas Putas Tristes”, as de Jorge Amado, “Teresa Batista Cansada de Guerra”, e Gabriela Cravo e Canela, assim como as músicas, “Cabaré” de João Bosco e Aldir Blanc, “Folhetim” de Chico Buarque de Holanda e “Geni e o Zepelim” também de Chico Buarque. Farei   observações sobre as profissionais do sexo, ora como putas, ora como prostitutas, ou qualquer outro sinônimo, seguindo o vocabulário de cada época. Escrever sobre personagens do andar de cima ou do andar de baixo é uma opção ideológica e não literária em minha opinião, por isso escolhi mais uma vez escrever sobre gente discriminada, gente que apesar do trabalho que exercia, tinha mais dignidade do que se imagina. Estou me referindo aos proprietários de cabarés. Quanto mais lemos, quanto mais estudamos as obras de Jorge

Estância e as suas ruas de nomes pitorescos

Capitão Salomão, centro Por: Genílson Máximo Estância, traz de pia, nome   que  converge em  ascensão ao substantivo feminino. Nome que  agrada ouvir sua sonoridade e que não o é cacófato. Por conta da sua simbiose com o município de Santa Luzia - do qual  foi povoação - quiçá, recebeu do mexicano Pedro Homem da Costa o nome de Estância, talvez  por ser  um local de paragem, de descanso quando das viagens de comércio entre outros  os povos da época. Denominada pelo monarca  Dom Pedro II como o Jardim de Sergipe,  Estância guarda na sua arquitetura os sobrados azulejados, possui um belo acervo arquitetônico, apesar das constantes perdas provocadas por destruições e mutilações de prédios históricos. Estância  das festas juninas, do barco de fogo, dos grupos folclóricos. Estância composta  por nomes de ruas que rasgam o tempo, mesmo com  as constantes mudanças de nomes, continuam vivos no consciente popular  com os seus  pitorescos  nomes. O programa "Sábado Esperança&