Nessa crônica,
relato incidentes hilários que ocorreram no ano de 1976 em um povoado de nossa
região. Houve um baile animado por um trio de forró liderado pelo sanfoneiro
muito requisitado, Ganso. O trio também incluía Mangangão, que tocava a zabumba
e Saruê, responsável pelo triângulo. Esse trio era conhecido por animar
diversas festas em povoados da região, uma espécie cover dos Os 3 do Nordeste.
Nossa região,
especialmente a sul, viu o surgimento de muitos sanfoneiros talentosos nas
décadas passadas, como Patelô, Badinho, Zé Paraíba, Gonçalo do Acordeon, Zé
Dinato, Zé Carlos do Acordeon, Tota Machado, Tonho Odorico, Edvaldo do
Acordeon, Zé de Mateus, Zé Alvino, Zetinha, Trio Sertanejo, Neno Sanfoneiro,
Toinho de Santa Luzia, entre outros.
Naquela época, os
forrós “pé de serra” eram frequentes em povoados de Estância, Santa Luzia,
Indiaroba, Umbaúba, Itabaianinha, Cristinápolis, entre outros municípios. As
festas geralmente aconteciam em casas de chão batido, iluminados por candeeiros
ou lampiões. O dono da festa molhava o chão da sala a cada hora para controlar
a poeira diante o chap-chap da chinela dos dançarinos. Após meia hora de forró,
com o salão lotado, era cobrada a ‘cota’, alguns pagavam, outros escapavam de
fininho.
Naquela época, as
mulheres não pagavam para dançar nessas festas, o que às vezes causava
confusões quando uma moça recusava um convite e depois aceitava dançar com
outro. Isso poderia resultar em arengas, especialmente com figuras como Pé de
Foice, um zé tabacão que não hesitava em interromper as festas quando uma moça
negava-lhe a dança. Ele era conhecido por ser mais agressivo do que um touro
bravo, pronto para causar problemas!
Em uma noite específica,
no entorno da casa, arvores frutíferas serviam de cenário para os namoricos;
bancas de bebidas e tira-gostos, doces ocupavam o terreiro. Pé de Foice, após melar o bico, teve seu
convite recusado por Gabriela, filha de Mané de Terto, uma jovem notavelmente
atraente, ela era uma moça de seus 17 anos; morena, de olhos verdes, de cabelos
negros, compridos e lisos. Chamava atenção o conjunto da sua beleza. Gabriela
preferiu dançar com um rapaz recém-chegado de São Paulo, o que enfureceu Pé de
Foice.
A munganga estava
feita: “Hoje você não dança mais com
ninguém nesse samba”, disse Pé de Foice, agarrando-a pelo braço. Ele ficou
de atalaia e viu quando Gabriela aceitou dançar com o rapaz paulistano. Pé de
Foice ficou mais nervoso que potro com mosca no ouvido. Deu uma tapa com tanta
força no parceiro de Gabriela, que o rapaz caiu por cima do sanfoneiro, a
perder os sentidos.
De posse de um
facão, Pé de Foice ameaçou matá-lo. Enfurecido, cortou o candeeiro, apagou a
luz do salão de dança, não ficou ninguém para contar o resto da história,
manteve o terror, forçando todos a fugirem.
Mané de Terto, no
caminho de buscar sua filha a cavalo, ouviu um som de sanfona desconcertado
debaixo de uma jaqueira, onde anos atrás um sanfoneiro havia sido assassinado.
Sem querer contato com alma do outro mundo, ficou tão apavorado que partiu com
pressa, afirmando para quem encontrou no caminho que a alma do sanfoneiro,
Testa de Bode, estava fazendo penitência; não sabia que era o sanfoneiro Ganso
que havia fugido com a sanfona devido ao medo de Pé de Foice.
Mas, para completar
o fovoco da noite, ainda teve a suspeição que havia aparecido um lobisomem na
cercania. As pessoas que voltavam do forró, devido à briga, caminhavam
numa estrada de rodagem ladeada de cercas que dividiam as propriedades, entre
uma e outra, havia uma cancela.
Ouviam-se tropéis, noite escura, às cegas, acharam que era o tropel do
lobisomem, bem como ouviam o som das cancelas a baterem no mourão. Ficaram tão
apavoradas que não sabiam para onde correr: se voltavam para a casa do forró,
onde estava Pé de Foice ou enveredavam entre os laranjais para se esconderem.
No entanto, esses tropéis eram, na verdade, causados pelo
cavalo de Mané de Terto, que galopava assustado após ouvir a sanfona sob a
jaqueira no escuro da noite.
Em 20 de outubro de
2023.
Genílson Máximo.
Comentários