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Recebi o cantor Lindomar Castilho na Rádio Esperança de Estância

Foto: do Google

Só quem fez rádio no tempo dos toca-discos, tape-decks, cartucheiras, gravadores de rolo, com o locutor separado do operador através de um vidro, e o programador tendo que utilizar 300 discos para compor a programação diária, além de ter que informar à ECAD o nome da música, do compositor e da gravadora, sabe o prazer que é receber na emissora um cantor de expressão regional ou nacional. É uma alegria muito boa! Pois é, nesse tempo tive o prazer de receber artistas como Jorge de Altinho, Gláucio Costa e Adelmário Coelho na Rádio Esperança.

Já passavam das 14 horas quando bateram palmas no portão da rádio. Fui atender e tive a grata satisfação de receber a visita do cantor e compositor Lindomar Castilho. Era uma quinta-feira, 13 de agosto de 1998. Ele se apresentou com barba rala, bigode, cabelo preso em rabo de cavalo, camisa branca básica, calça jeans surrada e sandálias de tiras. Sorridente, ele disse: “Sou o cantor Lindomar Castilho. Conhece? Gostaria de deixar o meu CD aqui na sua rádio!”

Convidei-o a entrar até minha sala de trabalho, ofereci-lhe água e um café. Ele tirou de uma bolsa duas cópias de CDs, dizendo que uma era para a emissora e a outra para ser sorteada entre os ouvintes. Conversamos por cerca de meia hora sobre sua carreira. Ele mencionou brevemente sua pena e seu arrependimento pelo ato cometido: “Cumpri pena, mas devo isso à sociedade. O mundo está muito violento, me arrependo, tenho que carregar isso por toda a vida”, disse.

Lindomar destacou que estava retomando sua carreira e enfrentando muita resistência. Perguntou se a emissora cobrava algum valor para tocar sua música. Respondi que o dono da emissora, Jorge Leite, tinha o prazer de apoiar cantores iniciantes, bem como aqueles que já fizeram sucesso e estavam sem espaço no rádio. Ele quis saber qual das suas músicas era mais pedida. Respondi que várias, como "Você é doida demais", "Nós somos dois sem-vergonhas", “Camas separadas” e "Eu vou rifar meu coração". Convidei-o a conhecer a discoteca da emissora, que possuía mais de cinco mil long-plays e compactos, incluindo o LP do próprio Lindomar. Ele ficou encantado!

Lindomar visitou os estúdios, cumprimentou a equipe e se despediu agradecido pela recepção. Não quis dar entrevista. O CD deixado foi encaminhado ao superintendente da emissora, Dr. Jorge, que o destacou em seu programa "A Esperança Conversa com Você".

Nos anos 60, 70, 80 e 90, gravadoras como Som Livre, RCA, Polydor, CBS, Polygram, Copacabana, Philips, Odeon, Warner Music Brasil e Universal distribuíam LPs para as emissoras, incluindo a Rádio Esperança. Naquela altura, Lindomar já não fazia mais parte dessas gravadoras e, em 1998, estava percorrendo os estados do nordeste para divulgar seu novo trabalho, um CD com grandes hits de sua carreira.

Biografia e Tragédia

Lindomar Cabral, mais conhecido como Lindomar Castilho, nasceu em 21 de janeiro de 1940, em Rio Verde (Goiás). Em 1977, conheceu a também cantora Eliane de Grammont nos corredores da antiga gravadora RCA de São Paulo. Ele tinha 37 anos e ela, 22. Casaram-se em março de 1979 e tiveram uma filha, Liliane de Grammont. Contudo, o casamento durou apenas um ano em paz. Após o nascimento da filha, começaram os constantes conflitos, agravados pelo ciúme e alcoolismo de Lindomar. Ele insistia que Eliane deixasse a vida artística, o que ela não aceitava. Separados, ela retomou a carreira ao lado do primo de Lindomar, o músico Carlos Randhall, o que aumentou ainda mais o ciúme do cantor. Após uma tentativa frustrada de reconciliação, o casal se separou definitivamente em 12 de março de 1981.

Na madrugada de domingo para segunda-feira, 30 de março de 1981, Lindomar entrou no bar Café Belle Époque, em São Paulo, onde Eliane se apresentava. Ela cantava "João e Maria", de Chico Buarque, acompanhada por Carlos Randhall, quando Lindomar, tomado pelo ciúme, efetuou cinco disparos de arma de fogo, atingindo Eliane e Carlos. Eliane faleceu a caminho do hospital.

Processo e Pena

Em 24 de abril de 1981, Lindomar recebeu liberdade provisória. Após os trâmites processuais, foi condenado em agosto de 1984 a 12 anos de reclusão por homicídio e dois anos por lesão corporal. Não foi preso imediatamente, pois tinha o direito de apelar em liberdade. Em 12 de maio de 1985, a 5ª Câmara do Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo negou provimento aos recursos da defesa e acusação, determinando a expedição do mandado de prisão. Em 23 de maio do mesmo ano, Lindomar se apresentou espontaneamente, cumprindo pena na Casa de Detenção, Carandiru, e depois na penitenciária em Goiás, onde ficou no semiaberto e fazia shows nos dias de visitas.

Impacto e Legado

Sua música desapareceu das rádios, devido à condenação por homicídio e às mulheres pediam para que suas músicas não fossem tocadas. Mesmo tentando retomar a carreira, não obteve o sucesso esperado. O caso se tornou uma referência na luta contra a violência de gênero, resultando na criação do primeiro Centro de Referência da Mulher pela Prefeitura de São Paulo, batizado de "Casa Eliane de Grammont" em 1990. Liliane de Grammont, filha do casal, tornou-se especialista no enfrentamento da violência contra a mulher.

“A minha mãe era uma pessoa extremamente alegre, cheia de vida e luz; uma pessoa que, quando entrava, todo mundo parava para olhar. Era uma artista talentosa. Ela morreu muito jovem”, recorda com saudade a filha.

 

Por: Genílson Máximo

Com informações do podcast Casos Forenses.

 

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