“Quando eu me chamar saudade”, de Nelson Gonçalves, diz em um de seus versos: “Me dê as flores em vida, o carinho, a mão amiga, para aliviar meus ais, depois que eu me chamar saudade, não preciso de vaidade, quero preces e nada mais.”
Ontem,
Estância perdeu mais que um cantor; perdeu um verdadeiro símbolo de sua
identidade cultural. Jorge Maravilha, artista estanciano que dedicou sua vida a
enaltecer as raízes da cidade e a riqueza cultural de Sergipe, partiu. Embora
tenha cantado com paixão o barco de fogo, as batucadas, o samba de coco, o São
João e as praias de Estância, sua música raramente encontrava eco nos meios de
comunicação. Em tempos nos quais o rádio e os espaços festivos locais são
dominados por ritmos que privilegiam apenas batidas vazias e letras
superficiais, Jorge resistia como um guardião de um patrimônio que a modernidade
teima em apagar.
Mesmo
a legislação do então vereador André Graça, hoje prefeito eleito para 2025, que
obriga as emissoras a incluir ao menos 10% de artistas locais em suas
programações, não conseguiu fazer com que as canções de Jorge fossem
devidamente apreciadas. Sua luta por reconhecimento sempre pareceu
desproporcional à grandiosidade de seu talento.
Hoje,
é fácil rotular Jorge Maravilha como um ícone da cultura estanciana, mas suas
homenagens chegam tarde. A saudade, essa visitante implacável, ocupará o espaço
deixado por ele, e é provável que, com o tempo, seu nome ressoe apenas como uma
lembrança distante. A cidade carece de gestos que eternizem seus heróis
culturais: ruas, praças ou monumentos que carreguem a memória e o legado dos
que contribuíram para o patrimônio local.
Lembro-me
de Jorge Maravilha nos anos 90, quando ele aceitou ser jurado em um show de
calouros no auditório Gonçalo Prado, evento que organizei. Mais tarde, ao
trabalhar na Rádio Esperança, descobri um LP dele com a canção “O Cadarço
dela”, representativa de uma época em que músicas de duplo sentido faziam
sucesso. Jorge, no entanto, transcendia isso. Sua música carregava uma
autenticidade que não se ajustava aos moldes do mercado contemporâneo.
Com
sua voz, Jorge cantou não apenas sons, mas histórias e sentimentos, desafiando
o universo musical que prefere o efêmero. Sua trajetória lembra a de um
guerreiro como Spartacus, lutando com bravura, mas enfrentando um sistema que
invisibilizava sua arte. Agora, sua ausência deixa um vazio que só o tempo e a
memória coletiva poderão tentar preencher. Deixa um indelével legado artístico!
Por: Genílson Máximo
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