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Fernandinho da 7 Desejos: música, memória e legado em Estância


Enquanto houver som, haverá 7 Desejos 
 
Quem viveu os anos 80 e 90 em Estância sabe que a cidade não apenas tinha música — ela era música. De cada clube, praça ou praia ecoavam os sons de forrós bem marcados, guitarras com alma e batuques cheios de alegria. Era uma época em que o coração batia no compasso dos conjuntos musicais, como os lendários Os Cometas e Unidos em Ritmo, rivais discretos, mas unidos por uma mesma missão: colocar Estância para dançar.

Foi nesse solo fértil, entre trilhos musicais e sons de trio elétrico, que um menino chamado Fernandinho — hoje conhecido por todos como Fernandinho da 7 Desejos — começou a rabiscar seu destino. Filho da terra e forjado na paixão sonora, ele aprendeu, como poucos, a conversar com instrumentos. Bateria, teclado, sanfona, baixo... Todos lhe respondiam como velhos amigos. Era como se o sangue que corria em suas veias pulsasse em compassos.

“Guardo todos os instrumentos. Não vendi nem uma baqueta. Está tudo bem guardado”,
disse ele, com um brilho de saudade no olhar que só quem viveu o palco entende

No palco do Gonçalo Prado

Fernandinho cresceu entre as referências dos mestres Gumercindo e Pimentel, líderes dos conjuntos que marcaram as décadas de 70 e 80. E, quando os velhos grupos começaram a repousar os seus instrumentos, Fernandinho ousou sonhar. E, como todo sonho que nasce no coração de um artista, ele ganhou nome: 7 Desejos.

“A gente era tudo guri... Fabinho tinha 12 anos, Itinho 16, Kéu 15 e eu, 20. Era a juventude com vontade de fazer barulho bonito”, lembra, sorrindo.

A banda 7 Desejos nasceu com a alma inquieta e o corpo elétrico. Misturava forró, axé e pop rock com a mesma naturalidade com que se misturam risos e lembranças numa noite junina. Por onde passava, deixava rastro de festa. Era presença confirmada nos réveillons, carnavais e arraiás de Estância e região, e virou também figurinha carimbada nos comícios políticos da época.

E foi aí que entrou em cena uma figura que daria sustentação ao sonho: o empresário e político Dr. Ivan Leite.

“Foi o maior incentivador da banda. O carro-chefe. Por causa dele, muitas portas se abriram e outras se fecharam também...”, conta Fernandinho, sem mágoa, mas com a memória viva.

A ligação com Ivan Leite foi muito além dos contratos de show. Era cumplicidade. Quando o teclado da banda deu pane em pleno período de comícios, Fernandinho foi até a fábrica de Ivan e fez uma proposta:

“Doutor, o XP-60 da Roland resolve nosso problema. A gente deduz do pagamento dos próximos shows.”

“Na mesma hora ele ligou pra loja em Salvador, comprou, e fui pegar no dia seguinte.”
No dia seguinte, o carro alugado enguiçou no caminho à capital baiana. Fernandinho ligou, preocupado. Ivan, sem hesitar, mandou outro carro, com motorista e tudo. “Ele nunca deixou a gente na mão." Nunca.”

Além dos palcos e praças, a banda 7 Desejos também animava datas especiais como os aniversários da Rádio Esperança, sempre a convite de Dr. Ivan. E, enquanto prefeitos da cidade preferiam ignorar a banda por conta dessa ligação política, a música seguia mais forte que qualquer boicote. “Mesmo com as portas fechadas aqui, a gente alegrava outras cidades, outros municípios e até do norte da Bahia conheceram o que era dançar com 7 Desejos.”

A formação da banda era um verdadeiro mosaico de talentos:

• Merinha e Luiz nos vocais
• Jânio e Eduardo na percussão
• Fernandinho na bateria
• Kéu no contrabaixo
• Itinho na guitarra
• Fabinho nos teclados e sanfona
Uma trupe jovem, unida e vibrante.

Nas entrelinhas da memória, Fernandinho ainda ouve os gritos da multidão, as viradas de bateria nos carnavais, os refrões entoados nos shows de praia. Mas hoje, os instrumentos estão em silêncio — não por falta de paixão, mas por respeito ao tempo. Estão guardados, como se dormissem esperando o próximo acorde.

“A banda tá descansando por enquanto," afirma com o ar de saudade. “Mas temos projeto, sim! Podemos voltar. O futuro a Deus pertence.”

E quem conhece a história de Fernandinho sabe que, onde há um coração batucando forte, há sempre chance de renascer um palco.





Por: Genílson Máximo

Em 23 de setembro de 2025.