Durante décadas, a Câmara Municipal de Estância —
uma das mais antigas do estado de Sergipe — não passava de uma inquilina no
centro da cidade. Instalada em um casarão modesto na Rua Capitão Salomão, o
Parlamento Estanciano funcionava com estrutura limitada, sem o peso simbólico
que o Poder Legislativo de uma cidade-polo como Estância deveria carregar.
Essa realidade mudou em 2005, quando um jovem do cenário político local assumiu
a presidência da Casa: o empresário Filadelfo Alexandre, reeleito vereador para
a legislatura daquele ano.
“Na condição de presidente da Casa de Leis, entendi que já passava da hora de a
Câmara Municipal ter uma sede que pudesse engrandecer ainda mais o Parlamento
Estanciano”, afirma ele, relembrando o início da articulação.
Uma articulação
de bastidores
A conquista da sede própria da Câmara não foi obra
de um único gestor, mas fruto de uma articulação política complexa, envolvendo
três esferas de poder: o Legislativo municipal, o Executivo local e o
Judiciário estadual. À época, Ivan Leite era o prefeito, e o desembargador
Pascoal Nabuco, natural de Estância, presidia o Tribunal de Justiça de Sergipe.
O antigo fórum da cidade, desativado e sem função, tornou-se o ponto de partida
de uma permuta ousada: a Câmara ficaria com o antigo prédio e, em troca,
financiaria a desapropriação de algumas casas nos fundos do novo fórum para
viabilizar sua ampliação.
“A Câmara ficaria com a sede, o antigo fórum, e pagaria as casas que existiam
nos fundos do atual fórum para fazer a ampliação”, lembra FA.
Mas havia um problema técnico: a Câmara, por sua natureza jurídica, não tinha
competência para desapropriar imóveis. A solução veio com um arranjo político
pouco convencional: o prefeito desapropriou e pagou as casas, e o valor — cerca
de R$ 180 mil — foi descontado aos poucos do duodécimo destinado ao
Legislativo.
“Só foi possível cristalizar o sonho da sede própria porque existiu essa união
entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Agradeço muito o apoio do
juiz doutor Valter Ribeiro, foi crucial”, pontua.
Uma sede
que virou referência
Com os entraves legais resolvidos, a reforma do antigo fórum foi bancada com
recursos próprios da Câmara. O prédio foi adaptado e ganhou imponência,
contrastando com a simplicidade da estrutura anterior. Tornou-se, à época, a
sede mais destacada entre as câmaras municipais do interior sergipano.
O feito, até hoje, não foi superado por nenhum outro presidente do Legislativo
estanciano, mesmo após duas décadas.
“Pra se ter uma ideia, a Câmara de Estância nunca teve sede própria, nunca
teve! A gente que implantou a primeira sede própria da Câmara. Isso é um marco
que nenhum outro presidente superou até hoje”, afirma FA, com visível orgulho.
Política
com visão de futuro
Antes mesmo de a sede própria se tornar realidade,
o presidente FA deu outro passo incomum para um vereador de segundo mandato:
criou a Escola do Legislativo de Estância, a primeira do Nordeste e segunda do
Brasil, com base em um programa nacional do Senado.
“O diretor do Senado, doutor Flora, pegou Estância como referência do Nordeste.
A Assembleia Legislativa de Sergipe depois se espelhou na gente”, relata.
Esse tipo de iniciativa revelava não só ousadia, mas também uma visão de longo
prazo incomum na política municipal.
Atendimento
jurídico e sessões itinerantes
Outro projeto de impacto social veio logo depois: a
criação de um serviço jurídico gratuito à população. À época, a Defensoria
Pública não havia realizado concurso, e milhares de cidadãos estavam
desassistidos. A Câmara, então, passou a oferecer atendimento jurídico cível
gratuito.
“A gente contratou advogados para atender à população mais humilde. Foi um
anexo que implantamos, num momento em que ninguém mais oferecia esse tipo de
apoio”, lembra.
Também foi pioneiro em realizar sessões itinerantes em bairros, aproximando o
Legislativo da população. O Parlamento, até então distante, passou a dialogar
diretamente com o povo.
O museu
que não saiu do papel
Nem todos os projetos saíram do papel. Um deles, particularmente, foi a proposta
de criação do Museu de Estância, apresentada ao então governador Marcelo Déda.
A ideia era transformar um prédio histórico da família do ex-vereador Wilton
Barros em espaço de memória política e cultural da cidade.
“Era um projeto belíssimo. Déda prometeu fazer, mas faleceu. Jackson [Barreto]
não se interessou. E, quando eu saí da presidência, a ideia morreu. Mas ainda
sonho em realizá-lo”, admite.
A
carreira política em números
Filadelfo foi vereador de Estância por três mandatos: 1997–2000, 2001–2004 e
2005–2008. Na Câmara Municipal, presidiu a Casa em dois biênios: 2005–2006 e
2007–2008.
Em 2008, disputou a Prefeitura pelo PMDB e ficou em segundo lugar, com
11.965 votos (37,11%). O eleito foi Ivan Leite (PSDB), com 19.040 votos
(59,06%). Também concorreram Márcio Souza (PSOL), 921 votos, e Titó (PMN), 315
votos.
Entre 2013 e 2016, retornou à vida pública como
vice-prefeito, ao lado do prefeito Carlos Magno, consolidando sua experiência,
desta feita no executivo municipal. Relação política que se deu com excelência.
“FA é o chiclete do meu jeans”, dizia Carlos Magno.
Por:
Genílson Máximo
Em 27 de setembro de 2025.