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A noite em que Tomar do Geru escolheu a mudança

Na eleição municipal de 1992, Tomar do Geru viveu um dos episódios mais tensos de sua história política. O então candidato a prefeito Pedrinho Balbino, do PMDB, enfrentou ameaças de morte e perseguições que marcaram uma campanha cercada por medo e coragem. Mesmo sob pressão, ele desafiou a estrutura dominante que comandava a cidade havia mais de duas décadas — e acabou vencendo nas urnas, tornando-se símbolo de renovação política no município.

A campanha e o clima de tensão

Naquele início dos anos 1990, a política geruense era controlada por um grupo que desestimulava qualquer tentativa de oposição. Foi nesse ambiente hostil que Pedrinho Balbino decidiu disputar a prefeitura, apresentando-se como alternativa à velha ordem. Sua mensagem de mudança conquistou rapidamente a simpatia popular, enquanto o candidato apoiado pelo prefeito à época perdia fôlego nas pesquisas.

O ponto mais dramático da campanha ocorreu em uma sexta-feira de outubro de 1992, durante um comício na Praça da Igreja Nossa Senhora do Socorro, final de campanha. O evento reunia candidatos, aliados e simpatizantes, todos empolgados com o crescimento de Pedrinho nas ruas. De repente, a euforia se transformou em pânico.

O comício interrompido e o risco de tragédia

O delegado de polícia local chegou à praça acompanhado de policiais, passava da meia-noite, e ordenou o corte dos cabos dos microfones dos carros-de-som que transmitiam os discursos. O silêncio súbito causou espanto entre os presentes. Em meio à confusão, o delegado determinou que o comício fosse encerrado. Orientou que os agentes se posicionassem com armas em punho, o que gerou um clima de extremo nervosismo.

No palanque, a tensão aumentou. O deputado Ivan Leite, aliado de Pedrinho, o abraçou em um gesto de proteção, enquanto um juiz de Direito, também simpatizante da campanha, interveio de forma decisiva. O confronto entre o juiz e o delegado foi breve e intenso, de armas em punho: “Delegado, eu vou lhe prender!”, disse o magistrado. O delegado reagiu: “O senhor não é nada aqui! Esta não é sua comarca!”. A multidão, apavorada, buscou abrigo atrás das árvores e muros da praça.

Graças à intervenção de aliado e do então deputado Ivan Leite, Pedrinho foi retirado do local e levado para Aracaju, evitando o que poderia ter sido uma tragédia. A notícia do episódio se espalhou rapidamente e, ao invés de intimidar, fortaleceu sua imagem junto aos eleitores.

A virada nas urnas e a nova fase política

O resultado das urnas refletiu o sentimento popular: Pedrinho Balbino venceu a disputa com 2.761 votos, encerrando vinte anos de domínio de um mesmo grupo político. Entre outubro e a posse em janeiro de 1993, as ameaças não cessaram. Telefonemas anônimos alertavam que, se retornasse à cidade ou não renunciasse, sofreria consequências. As intimidações deixaram em alerta sua mãe, dona Maria, a esposa Iara e os dois filhos pequenos.

Mesmo assim, Pedrinho não recuou. Tomou posse como prefeito e iniciou uma gestão voltada às necessidades mais urgentes da população, sobretudo da zona rural. Durante os períodos de seca, garantiu abastecimento de água às famílias e criou frentes de trabalho para recuperar estradas vicinais. Também distribuiu alimentos básicos — feijão, arroz, farinha, carne e açúcar — às famílias em situação de vulnerabilidade.

Um governo de resultados e reconhecimento

Com investimentos em infraestrutura, saúde e educação, Pedrinho Balbino promoveu uma transformação percebida em todo o município. A cidade foi urbanizada, serviços foram ampliados e a esperança voltou a fazer parte do cotidiano dos geruenses. Seu trabalho foi reconhecido pela população, que mais tarde o elegeu deputado estadual, e também conduziu sua esposa à prefeitura — continuidade de um projeto político iniciado em 1992.

Em 2017, Pedrinho voltou ao comando da prefeitura, consolidando um legado de coragem, superação e compromisso com o povo. A história do homem que enfrentou ameaças, sobreviveu a uma noite de terror e conquistou o respeito de seu povo continua viva na memória de Tomar do Geru — uma lembrança de que, mesmo em tempos de medo, a vontade popular pode ser mais forte que qualquer imposição.

 

 

Por Genílson Máximo — 4 de setembro de 2023.