Há
um ditado conhecido popularmente: ‘Deus ajuda quem cedo madruga’. Quem tem mais
idade tem o privilégio de ter vivido mais e desfrutado das coisas boas que a
vida proporciona. Reporto-me à venda do leite mais puro e
mais procurado da cidade que foi o ‘Leite de doutor Jorge’, vendido nas
primeiras horas do dia, despachado na Avenida 1º de Maio, tradicionalmente,
apelidada de ‘Rua do Leite’.
Formava-se uma fila imensa junto ao muro da casa de doutor Jorge Leite. Senhoras, jovens mocinhas, crianças, traziam baldes, caldeirões, litros de vidro, leiteiros, vasilhas de plástico, panelas e ficavam no aguardo da chegada da carroça que transportava o líquido vindo da fazenda Porto. Uma vez e outra doutor Jorge aparecia portando um pequeno instrumento para fazer o teste do leite – ele fazia questão de saber se o leite estava sem mistura.
Simpático,
mas siso, doutor Jorge desejava bom dia aos fregueses e se retirava para o
interior da sua residência, enquanto o vaqueiro e uma funcionária faziam o
atendimento à freguesia, isso por volta das quatro ou cinco horas do dia,
às vezes ainda tudo escuro; os pássaros contemplavam os 'cedo - madrugas' com
seus doces trilares, as árvores em volta da casa serviam de abrigo para rolinha Fogo-Pagou, Bem-te-vi, Guriatá e outros que regiam a orquestra dando boas-vindas ao novo dia, às vezes até o pavão dava uma canja.
Comumente
eram vistos na fila João Cego, ABC, João Lídio, Zé de Ló, Dona Hosana Teixeira,
José Ramos, José Vaqueiro, Dona Laura, José Benjamim, José Félix,
personalidades que contribuíram com a história do Bairro Santa Cruz. Vinha
gente de vários locais da cidade; leite puro, sem mistura, mais barato, era disputado.
Muitos adultos de hoje, crianças à época, cresceram robustecidos graças
àquele bom leite.
Genílson Máximo
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