Os frutos do seu trabalho continuam vivos
Senador Júlio Leite e sua esposa Carmem Prado |
Era uma manhã de domingo; eu fui à Igreja Santa Cruz
assistir a celebração da Santa Missa celebrada pelo Bispo Diocesano Dom
Hildebrando. Era uma missa em Ação de Graças pelo aniversário do saudoso Júlio
César Leite. Isso há cerca de 10 anos.
Fui convidado pelo seu filho primogênito doutor Jorge Leite.
E nesse dia, o mesmo estava presente acompanhado de familiares. Após a
celebração, pessoas idosas residentes no Bairro Santa Cruz foram presenteadas
com brindes, mantendo viva uma tradição iniciada pelo saudoso senador.
Ao final da missa, doutor Jorge Leite, num gesto de atenção
aos amigos, os esperava na porta de saída da capela para lhes dar um aperto de
mão em agradecimento.
Estava radiante com a presença dos amigos; entre estes,
muitos funcionários das suas empresas.
No próximo dia 06 de fevereiro faz 24 anos de falecido. Se
vivo estivesse, o senador Júlio Leite estaria com 118 anos de idade. Um homem
que imprimiu respeito e carinho para com os seus operários.
Homem de visão penetrante para o futuro, de inteligência
culta, de honradez no cotidiano, simpático na convivência, elegante, gentil e
leal com os amigos, lembra o amigo de muitos anos José Félix. Tudo isto fazia
do senador Júlio Leite uma personalidade fantástica; um homem que se tornou um
dos vultos ilustres do solo sergipano. Ele foi o responsável por uma era de
incremento do progresso de Estância quando elegeu esta cidade para ser sede dos
seus empreendimentos gerando milhares de empregos diretos na Fábrica Santa
Cruz, muitos até os dias presentes.
Deixou sua contribuição para Estância e para Sergipe com
empreendimentos tais como: Fábrica Santa Cruz, escolas, biblioteca, creche,
cinema, estádio, clube dançante, assistência médica e odontológica. Construiu o
prédio Gonçalo Prado em 1937 e o reformou no ano de 1944, por onde passaram
grandes nomes do cenário artístico do país - Grande Otelo, Procópio Ferreira,
Vicente Celestino - espaço de exibição de filmes, encenações teatrais e shows
de calouros e cantores locais. Esses pontos proporcionavam merecido lazer aos
funcionários após afanoso dia de trabalho.
Em 1951, um ilustre visitante, o Cônsul Inglês na Bahia,
Maurice Stout, em visita à Fábrica Santa Cruz fica impressionado com a grandeza
dos serviços sociais oferecidos aos operários e os compara melhores que os
oferecidos na Inglaterra.
Foi responsável pela construção de casas nas ruas Erasmo
Loyola, Praça José de Souza, Antônio Joaquim, Raimundo Nascimento; construiu as
escolas D. Antônio Cabral, Dr. Oscar Prata, Comendador João Sobrinho e D.
Quirino; construiu creche, refeitório, o mercado e ferinha da Santa Cruz,
Escola de Corte e Costura e a fonte da Donana, existente até hoje, próximo ao
Fórum Eleitoral.
Em 1950, assim que iniciou sua vida política, Júlio César
Leite passou a direção das suas empresas para o seu filho primogênito, doutor
Jorge Leite. E juntamente com nomes célebres a exemplo de José Rolemberg Leite,
Edézio Vieira de Melo, Arnaldo Garcez, Leite Neto e muitos outros adentrou ao
cenário político sergipano e elegeu-se nesse mesmo ano a Senador da República.
Exerceu o mandato de 1951 a
1954.
Integrou a Comissão de Finanças onde foi relator do
Ministério da Fazenda; foi Presidente da Comissão de Economia do Senado
Federal. Cursou a Escola Superior de Guerra e representou o Brasil na
Conferência Internacional de Bonkok. Foi nomeado para o Conselho Nacional de
Economia, onde ocupou a Vice-Presidência no período de 1959 a 1960, depois Presidente
de 1960 a
1961 e conselheiro no ano seguinte.
Foi reeleito Senador por Sergipe para o segundo mandato, de 1962 a 1968. Foi líder do
seu partido e vice-líder do Bloco Parlamentar Independente. Foi membro da
Comissão do Polígono das Secas do Senado Federal.
Em 1970 aos 74 anos, afastou-se da vida política com carta
dirigida ao Presidente da ARENA, senador José Rolemberg Leite, onde dizia ser o
seu desejo, com esse gesto, ‘Dar oportunidades aos jovens do partido’. Selou a
vida pública de forma honrada, íntegra e respeitada.
Deixou a política definitivamente para dedicar-se as
atividades particulares firmando residência no Rio de Janeiro. Mesmo longe de
Estância jamais se esqueceu da cidade, dos amigos e funcionários da Fábrica
Santa Cruz, de modo que, buscava manter-se informado por meio dos familiares
sobre os acontecimentos da cidade de Estância.
O comprometimento com a Educação vem de longe: cedeu
gratuitamente o prédio que hoje é sede da Sulgipe (centro) ao SENAI para que
fosse implantado em Estância até conseguir estabelecer sede própria;
comprometimento mantido pelo seu filho doutor Jorge Leite e renovado pelo seu
neto, Ivan leite, engenheiro elétrico, deputado estadual, prefeito de Estância
e secretário de Estado da Indústria e Comércio, até os dias de hoje continua
acessa a preocupação com a geração de oportunidades para o operariado e
juventude.
Tudo isso é preciso ser dito para que todos aqueles que se
sentarem nas cadeiras do Gonçalo Prado, nas arquibancadas do Estádio da Vila
Operária, que praticarem esportes na Quadra do Santa Cruz, que se divertirem no
Centro de Recreação Operária (Cassino), que residirem nas casas da Avenida
Santa Cruz e até aos que ocupam as vagas de empregos das empresas da família
Leite, saibam que estas coisas não nasceram por milagre e sim pelo trabalho
fecundo e dedicação de um grande homem, de visão futurista, que dedicou sua
vida em função do progresso de Estância e de Sergipe.
O senador Júlio César Leite nasceu em 06 de novembro de 1896
na cidade de Riachuelo, Sergipe; filho do casal Francisco Rubens Leite e Maria
Virginia Acioli Leite. Casou-se com Maria Carmem da Cruz Prado Leite, com quem
teve dez filhos. Formado Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade Livre de
Direito, Rio de Janeiro, no ano de 1917.
Foi Delegado de Polícia em Aracaju
1918/1920; foi Chefe de Polícia do Estado em 1929; Inspetor Escolar do Estado
1920/1921; Diretor do Serviço de Água e Esgotos de Aracaju 1926/1930; banqueiro
do Banco Mercantil Sergipense, (casa fundada em 1924, tendo como companheiros o
Coronel Gonçalo Rollemberg do Prado, seu sogro, e Moacir Rabelo Leite);
industrial da Fábrica Santa Cruz, fundada pelo comendador João de Souza
Sobrinho, e mais tarde adquirida pelo coronel Gonçalo Rollemberg do Prado.
Doutor Júlio Leite faleceu aos 94 anos, em 06 de fevereiro de 1990, no Rio de
Janeiro.
O que seria de Estância sem a presença da Fábrica Santa Cruz
e sem a visão futurista do saudoso empresário Júlio César Leite?
Esta é minha simples homenagem na passagem do
seu aniversário de morte.
Genilson Máximo
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