O Homem é eterno quando suas ações são lembradas |
Não podemos permitir que a gratidão seja o sentimento que rapidamente envelheça em nós. Está provado que “Nenhum homem é uma ilha isolada”, como disse John Donne; sendo assim, a gratidão é o maior símbolo de amor que podemos demonstrar ao próximo, pois ninguém consegue chegar a um lugar algum sozinho. Vivemos em comunidade, vivemos em tribos, precisamos uns dos outros.
Com este preâmbulo, lembro as memórias da década de oitenta. Escrevo essa crônica para imortalizar uma homenagem a Agnaldo Ramos, um cidadão de Estância que passei admirar por conta de um fato em que ele me ajudou sendo direto e eficaz.
Abril de 1983, eu havia acabado de me tornar pai aos 22 anos. Minha esposa deu a luz na maternidade do Hospital Amparo de Maria e recebeu alta. Nascia minha primeira filha, a quem dei o nome de Fagna, em homenagem ao cantor cearense, meu ídolo, Fagner.
Com a orientação do médico para deixar a maternidade, uma preocupação surgiu: como levá-la para casa se eu estava sem dinheiro para pagar o táxi, além de estar desempregado. Morávamos no bairro Cidade Nova, no Conjunto Paulo Amaral.
Após contemplar o olhar inocente da minha filha, saí da maternidade com a mente em ebulição. Andei pela Rua Camerino, depois pela Rua Jessé Fontes, passei pela Loja de Nivaldo Silva e continuei pela Capitão Salomão. Olhei para os lados em busca de ajuda, rezando para que uma solução acalmasse meu coração.
Por um momento, sentei-me no batente da loja de George Jasmim, onde agora funciona a Farmácia JB. Não encontrei uma solução que aliviasse minha inquietação de pai de primeira viagem. Eu me senti como na música “Como Nossos Pais”, do Belchior. Entrei no bar de Geraldo, onde atualmente fica a Ótica Santa Helena, vi algumas pessoas jogando sinuca, demorei um pouco e segui em direção à Catedral.
Naquela época, ao lado da catedral, havia um quiosque onde as pessoas costumavam se reunir para conversar e tomar cerveja. De repente, surgiu em mim a ideia de ir até lá. Não sei por que, mas algo me impulsionou a pedir ajuda. Aproximei-me de um senhor de cerca de 40 anos, baixo, de óculos, penteado para trás. “Desculpe interromper a conversa de vocês. Gostaria de saber se o senhor poderia me fazer um grande favor”, perguntei. Muito gentil e educado, ele respondeu: “Pode falar, amigo!”
Expliquei que minha esposa tinha alta da maternidade e que eu não tinha dinheiro para pagar um táxi até nossa casa na Cidade Nova. Ele olhou para mim, gentilmente, respondeu: “Só isso? Vamos agora mesmo!”
Ele nos levou para casa em seu carro, uma Belina amarela. Parou numa lanchonete, comprou quatro maçãs embaladas em uma redinha e disse: “Dê para ela comer quando chegar em casa. É saudável”.
Após chegarmos em casa, ele fez questão de oferecer uma quantia em dinheiro e disse ser para comprar um presente para minha filha. Relutei, afinal ele já tinha efetuado um grande ato de solidariedade. Ele insistiu. Na situação em que eu estava, não podia recusar. O valor deu para comprar fraldas, leite, chupeta e outros itens para o bebê.
Anos depois, tive a privacidade de conhecê-lo mais de perto, trabalhei na prefeitura durante a gestão do prefeito Valter Cardozo. Agnaldo Ramos foi Secretário Municipal de Finanças. Contador de profissão, irmão do fotógrafo Almiro Ramos, da professora Lindinalva e da professora Amélia, pai do jovem contador Ferreira Neto. Ele nos deixou e agora está no plano espiritual, ao lado dos anjos celestiais. Esta crônica é uma modesta homenagem a esse homem de coração generoso.
Recentemente, visitei o Cemitério da Piedade no Dia de Finados e encontrei seu túmulo. Parei, orei e agradeci pelo que fez por minha família. Pedi a Deus que o permita continuar fazendo o bem no plano espiritual.
Obrigado Agnaldo Ramos!
Por: Genílson Máximo
Em 02 de fevereiro de 2014.
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