Era um dia de domingo, reunidos peladeiros de final de semana, ávidos por ‘bater um baba’, a bola já aparentava desgaste, mesmo assim, era latente o desejo pelo certame. Um dos amigos, apelidado de ‘Cotovelo’ - pernambucano aperfeiçoado em Estância, ganhava a vida como Mestre de Obras -, era o encarregado de pegar de casa em casa os peladeiros. Possuía um fusquinha ano 74, já enfadado pelo tempo de uso, de cor vermelha, pintura queimada. Há quem diga que com um arame e um alicate qualquer uma arruma o Fusca.
Parece ser verdade, pois, Cotovelo transportava um caixote no porta-malas onde continha quase outro fusca desmontado. Tinha de tudo!
Quanto ao ‘bater um baba’, a expressão me fazia curioso, não sabia ao certo a etimologia da expressão. À época, dei-me com um muro na cara e segui na escuridão. Com ajuda dos robôs do Google, hoje, saciei minha curiosidade.
O nosso caso se deu em 1982, ano em que a Seleção montada por Telê era das melhores, só tinha craques, equipe que encantou o mundo, embora o resultado de Brasil 2 x 3 Itália nos tirou o título de melhores do mundo; aquela equipe encantou e de volta foi recebida com aclamação popular.
Mesmo com o coração sofrido pela derrota, o gosto pelo futebol continuava latente. Cotovelo, logo cedo, fazia a manutenção no seu possante. Queria certificar-se de não dar defeito. O banco dianteiro do passageiro era escorado por um pedaço de cabo de vassoura, a tranca da porta, do lado do motorista, era improvisada com um ferro torcido no formato da letra U, embora, essas deficiências eram superadas por um motor de 1.600 cilindradas.
Cotovelo saía recolhendo os peladeiros de casa em casa: Coice de Mula, Canela, Morcego, Pirão, Cal, Coló, Jegue, e lá iam todos para o baba. Saíam cedinho, antes das sete, isto para encontrar um campo vazio, dentre esses: campo de Seu Dó, na Rua do Quilombo; campo da Praça do Amparo; campo do Cigano (Copacabaninha); às vezes nos Portinhos, na maré, onde existia imensa faixa de areia.
Numa dessas idas para recolher os atletas, parou na casa de Cal, na Rua Zé da Bica, ao estacionar o carro, um gato se meteu debaixo do veículo. Ao sair, o fusca acabou pisando no rabo do felino. O carro estava lotado, apagou o fogo, o gato danou-se a miar, a fazer o maior alarde. Cotovelo desceu e agachou-se para ver o labafero, nesse momento, levou uma azunhada no rosto e no braço; furioso, tentou arrancar o gato puxando pela cabeça, não deu certo.
Pirão, que ocupava o banco do passageiro da frente, desceu, empurrou o carro e salvou o gatinho da sofrência. Todos tiraram onda: “Você agora foi amigo do gato, em vez de amigo da onça”. Naquele momento Cotovelo estava na cozinha tentando passar mertiolate no local ferido. Todos iniciaram um bullying com Pirão, diziam que ele era o amigo do gato.
Autor: Genílson Máximo
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