O dia da semana não me vem à flor da memória. Mas, no entanto, me vem à baila com nitidez o mês e ano. Dezembro de 2004, já tinham acontecido às eleições municipais; nesse ano a Câmara de Vereadores de Estância era composta por 10 vereadores; dentre os eleitos, Salviano (PTdoB), Satu (PSB), Romualdo (PP), filhos de trabalhadores. O prefeito Gevani Bento encerrava o seu mandato marcado por muitas sinucas, ao ponto de ter um juiz como interventor na prefeitura.
Os
irmãos Zezé di Camargo e Luciano, nesse ano, estouravam com a música “Nosso
Amor é Ouro”, tocava nas rádios do país; existiam cerca de quatro locadoras na
cidade. Os filmes em VHS enchiam as prateleiras e a disputa era grande por um
filme lançamento, já existiam filmes em DVDs, ainda poucos, mas já
miravam para uma grande mudança no futuro. Sutilmente os aparelhos de videocassete (VHS) davam lugar aos aparelhos de DVD.
Não
existia Face Book e nem WhatsApp, o que dominava a geração da época era o Orkut
e o Messenger; naquele ano o Santos conquistou o Campeonato Brasileiro e venceu
o Vasco por 2 a 1 no Estádio Benedito Teixeira. Foi um chororô dos vascaínos em
Estância também.
A
cidade de Estância não se continha de tantas alegrias, pois, era final de ano,
natal, acesas as expectativas para o ano que chegava (2005); ainda existia o
Restaurante Ponto de Encontro, na entrada do Bairro Valter Cardoso, sobre um
morro, sinalizava encerrar as atividades.
No entremeio desse tempo recebi um convite do
amigo Miguel da Padaria – renomado comerciante local – para fazer a locução de um
sorteio em seu estabelecimento comercial, às 19 horas de um dado dia. A
qualidade dos produtos da sua padaria era de primeira linha, atraía grande
clientela e ele sabia como cativá-la.
Eu
trabalhava com ajuda de uma pequena equipe, às vezes dois rapazes, às vezes
três. No momento combinado estávamos no pé do batente. Nesse dia estavam na minha
companhia dois colaboradores: ‘Boca de Bacia’ e ‘Rodete’. Diante da denominação qualificativa dá para
se ter uma ideia do porque das alcunhas.
Começou
o sorteio, a padaria lotada, também na parte externa, a clientela de tickets em mãos e lá se foram os prêmios (salgadinhos, bolos, tortas, bolsas de pães, refrigerante,
liquidificador, ferro elétrico, ventilador, garrafa de café, rádio).
Seu
Miguel tinha fumaças de político, sonhava em chegar ao parlamento municipal.
Nas eleições de 2004 disputou para vereador pelo PP e auferiu 92 votos. Também compunha
algumas trovinhas que enalteciam Estância. Meio fora de ritmo,
arriscava cantar – O que você achou – indagava a sorrir com um papel nas mãos onde
continha a letra do que ele chamava de música. Era um homem pacífico, de riso fácil,
trabalhador, empreendedor. “No meu pão eu não uso Bromato de Potássio”, falava
de forma veemente.
Findo
o evento – Vou aqui pegar o frango que assei pra a gente fazer um lanche –
disse Seu Miguel. Trouxe o frango em pedacinhos sobre uma assadeira,
cheiro de orégano, agradável aroma, de fazer a boca salivar. Deixou a bandeja
sobre o balcão e retornou para pegar refrigerante e copos.
Os
olhos de Boca de Bacia e de Rodete revelavam a apetência pelo frango e se adiantaram
ao banquete enquanto eu conversava com um cliente; quando me voltei para a
assadeira tomei um susto: só restavam pescoço, ossos e a carcaça. “Eita frango
bom da porra”, expressou Boca de Bacia.
Rodete sorriu a lamber os dedos.
De
volta com o refrigerante e os copos, Seu Miguel riu: “Foram mais rápidos que os
meus gatos”, disse. Boca de Bacia e Rodete nem
puderam responder, pois lambiam os dedos e mastigavam ainda com a boca cheia.
Quer
ser feliz? Não convide Boca de Bacia e nem Rodete, eles têm apetite de elefante.
Em
dezembro de 2022
Autor/Genílson
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