Crime ocorrido na Rua Agnaldo Augusto dos Santos, que abalou Estância, é uma história da crônica policial que deixou toda a cidade em choque nos primeiros anos da década de 80. Este homicídio teve como pano de fundo uma das casas em construção na Rua Agnaldo Augusto dos Santos, travessa da Rua dos Ferreiros, em direção à antiga Brahma. O fato aconteceu numa sexta-feira à noite, em fevereiro, período de Carnaval, quando a cidade estava efervescente com as festas de momo por todos os quadrantes.
Nessa época, era comum a realização de bailes à fantasia na
Escola Técnica do Comércio e na sede do Cruzeiro. Além disso, grupos
carnavalescos e figuras pitorescas como o Sr. Zeca do Pandeiro, se vestiam de
mulher e desfilavam ao som do trio elétrico Luminosidade, animavam as ruas. As
festas na sede do Cruzeiro eram muito concorridas como formaturas, casamentos,
aniversários, debutantes e bailes de carnaval, alegravam a vida social à época.
Naquela sexta-feira fatídica, um baile de carnaval aconteceu
na sede do Cruzeiro, com a presença de um grande público. Após o término, as
pessoas voltavam para suas casas. As ruas General Pedra, Boa Viagem, Cravo,
Rosa, Camerino, Jardim Velho, Capitão Salomão e Aquidabã eram os caminhos
seguidos pelos foliões felizes.
Naquela época, a vendedora Dona Dasdores costumava surtir seu
tabuleiro com deliciosas cocadas, pé-de-moleque, pastéis, roletes de cana, acarajé
que eram consumidos rapidamente pela clientela que retornava das festas. Dona
Dasdores atendia a clientela em seu ponto de venda, em frente ao Bar Central.
Por volta das duas da manhã de sábado, moradores da Rua dos
Ferreiros ouviram uma discussão entre um homem e uma mulher. O homem tentava
reatar o relacionamento e fazia ameaças, enquanto a mulher resistia. A briga
continuou na rua, chamando a atenção de moradores, mas ninguém interferiu.
Na tarde do mesmo sábado, um grupo de crianças jogava bola na
Rua Agnaldo Augusto dos Santos. Durante uma das jogadas, a bola acabou entrando
em uma das casas em construção, um dos garotos foi buscá-la e voltou com uma
expressão de choque, dizendo haver uma mulher deitada lá dentro.
Todos correram para ver e levaram um grande susto. Uma mulher
aparentando 20 anos, estava com o corpo parcialmente despido, a calça jeans
abaixada até os joelhos, revelando partes íntimas e seios expostos. Um arame
apertava seu pescoço de forma tão intensa que parecia ter sido usado um alicate
para torcer e enforcá-la. Além disso, havia papel de saco de cimento em sua
boca e ferimentos causados por objetos perfurantes na altura da têmpora.
Marcas de queimaduras de cigarro eram visíveis em seu rosto, braços e tórax. Ela
sofreu torturas antes de morrer. Foi uma cena chocante!
A polícia foi imediatamente acionada, e logo a notícia se
espalhou pela cidade atraindo uma multidão para o local. O corpo foi levado
para o Hospital Amparo de Maria (HRAM), onde foi exposto na pedra fria e
visitado por curiosos.
Até esse momento, a identidade da vítima era desconhecida.
Durante uma investigação, foi encontrado um brinco no fundo do seu ouvido,
indicando que tal objeto foi utilizado durante ato de tortura. Era evidente que
o homicídio não poderia ter sido cometido por uma única pessoa, pois, o acusado
era baixo e a vítima era alta, corpulenta e jovem.
Lembro-me de uma jovem preocupada com o sumiço da irmã que
havia saído para o baile do Cruzeiro e não havia retornado. O número de
curiosos no HRAM era incomum, quando essa jovem adentrou ao local da pedra fria
e observou o corpo, desabou em lágrimas, era a sua irmã. Ela acusou o suspeito
do homicídio, afirmando que ele costumava ameaçar a vítima, bem como toda a
família dela.
Naquele carnaval, em uma sexta-feira à noite, Marli (vítima)
estava na cidade e infelizmente se encontrou com o acusado. No entanto, ela não
correspondia mais às intenções dele por força das ameaças sofridas, e os seus
pais desaprovaram o relacionamento com o agressor. Por algum tempo a família
trocou Estância por outra cidade da Bahia para fugir das ameaças.
Um empresário local se empenhou em ajudar a capturar o
acusado e disponibilizou um segurança, que, em colaboração com a polícia,
conseguiram prender o assassino na divisa entre Sergipe e Bahia.
O homicida foi condenado a mais de 10 anos de prisão pelo
crime. Após cumprir sua pena, voltou à cidade, segundo a irmã da vítima, teve a
audácia de visitá-la no trabalho, numa loja de tecidos, exibindo um sorriso
malicioso, o que lhe causou grande desconforto, tendo que tomar água açucarada;
passou a viver assombrada.
Marli era uma jovem bonita, de pele moreno-clara, alta,
cabelos pretos compridos, de apenas 23 anos. Ela tinha toda uma vida pela
frente, repleta de sonhos e planos, mas foi vítima de um algoz implacável,
possessivo, mente assassina. Seu corpo foi encontrado em um local sujo, sobre
restos de construção, seminu; um triste acontecimento que lançou uma sombra
sobre a alegria dos estancianos no carnaval daquele ano.
Com o passar do tempo foi revelado que o homicídio acontecera
com ajuda de um pintor conhecido da cidade. Embora, o rapaz que foi preso
assumiu a autoria sozinho.
Em 17 março de 2023
Genílson Máximo
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