Tarde de uma quinta-feira, dia 30 de março, de 2023, eu e mais três amigos - Ribeirinho, Lucas Berto e Julhão -, após o trabalho, resolvemos comprar queijo coalho em uma fabriqueta na zona rural. Era por volta das 16h00, tínhamos acabado de fazer parte de uma reunião com agricultores da Colônia Estancinha. Foi um momento agradável dialogar com àqueles agricultores, ouvirmos suas experiências, sugestões, ideias, uma excelente interlocução.
Estávamos no mês de São José, tempo de preparar a terra para lançar as sementes de milho e, assim, engordar a culinária junina. Na tarde daquele dia estávamos representando o Poder Público Municipal, reunião de trabalho com as pessoas que fomentam a agricultura familiar, encontro realizado na sede da associação comunitária.
Ao final, no terreiro da sede, alguém falou da venda de queijo coalho numa fabriqueta do povoado Fusquinha, assentamento Analício Araújo. O nosso comunicador, Ribeirinho, ao ouvir, rebobinou sua memória afetiva. Julhão disse que sabia o caminho, Lucas Berto afirmou que não conhecia a estrada até lá; naquele dia Lucas estava na função de condutor do veículo (*). Eu nem opinei, mas a minha memória afetiva alimentar me fez sentir o sabor da iguaria naquele instante.
Antes que o sol desse adeus, ainda havia alguns lumes a brilhar, nos despedimos e botamos o pé na tábua. As vias de rodagens pareciam um labirinto, viajamos por volta de meia hora, estrada acima, estrada a baixo, sai de uma, entra em outra, isto, perdendo o restinho da luz do dia e nada de encontramos a tal fabriqueta. Andávamos e saímos no mesmo local, às vezes perdidos em bifurcações sem saber qual via a seguir.
Julhão, com as suas ideias geniais lembrou – Rapaz, se eu disser uma coisa vocês nem vão concordar, mas é verdade! Nós estamos perdidos e a culpada é a caipora. Já passamos por aqui umas duas vezes. E a fábrica se encantou. Isso é coisa da caipora- disse.
A brincadeira de Julhão tinha um quê de verdade, pois, quem morou em Roça crer nessas estórias. E se fosse mesmo? Nesse entremeio Lucas Berto teve uma ideia também – Será que se a gente fizer uma doação para caipora ela nos mostra o caminho – indagou. Ribeirinho aparentemente não acredita nessa crença popular. “Caipora não existe, isso é conversa de caçador! Eu conheço a estrada até a fábrica, já estive lá, só não entendi o porquê de a gente não achar o local hoje”, ressaltou.
O dia já tinha dado adeus, a noite começava a se estabelecer lançando seu negro véu forçando acender os faróis do veículo. Já na iminência de desistirmos da compra do afamado queijo, algo no formado de um bode cruzou na frente do veículo nos assustando e sumiu pasto adentro. O amigo Julhão disse “Olhe ai, bem que eu sabia, é a caipora, ela está nos seguindo”.
Essa estória de caipora enganar pode ter vida, pois, num trecho da estrada paramos defronte de uma casinha de cercas de paus a pique onde três pessoas conversavam,
pedimos informação acerca da fábrica de queijo. “Vocês estão pertinho, logo aqui acima”, informaram. Seguimos conforme o dito, ao final da via nada da fabrica, demos de cara com a BR-101. Retornamos pela mesma estrada, pasmem: a casa não estava mais ali, nem as três pessoas. Ficamos passados!
Lucas Berto, estudioso do tema, lembrou que segundo o folclore brasileiro a caipora gosta de ganhar presentes, assim, fazendo, ela quebra o encanto. “Se for esse o problema está resolvido. Comprei duas barras de chocolate para levar para casa, nesse caso a gente dá para ela”, disse Ribeirinho. Paramos o veículo e sobre um toco à beira da estrada foram deixadas as duas barras de chocolate.
Se a caipora comeu ou não, não ficamos para saber. O certo é que tão logo, ali pertinho, encontramos fabriqueta de queijo. O que você acha? Será que era mesmo coisa da caipora?
(*) Lucas Berto dirigia o veículo de Ribeirinho.
Em 18 maio 2023.
Genílson Máximo
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