A ditadura militar brasileira, instaurada em 1º de abril de 1964, estendeu-se até 15 de março de 1985, sob o comando de uma série de governos militares. Este período deixou marcas profundas na sociedade e na política do país. Em meio a essa conjuntura, no dia 24 de novembro de 1977, nasceu em Estância um dos bairros que se tornaria referência no município: Cidade Nova. Este bairro, inicialmente planejado e fundado pelo então prefeito Valter Cardozo Costa, posteriormente receberia o nome de seu idealizador, passando a ser conhecido como Bairro Valter Cardozo Costa.
Em 1984, quando a ditadura se aproximava do fim, mudei-me
para o bairro com todas as minhas coisas. À época, o Bairro Valter Cardozo
Costa, com apenas sete anos de existência, já fervilhava em clima de otimismo e
promessas para o futuro. A comunidade local vivia um momento de intensa
participação e expectativa de dias melhores. Durante dez anos, residi no
Conjunto Paulo Amaral, um residencial construído sob o governo de Augusto
Franco, que acolhia famílias vindas de diversas partes do país.
Como morador do conjunto, junto a vizinhos como Valmor,
Raimundo (Curió), Milo, Roberto, Seu Artur, Dona Nete, Valquíria, Aparecida,
Dona Raimunda, Claudite e a professora Nilza, fundamos uma associação comunitária
que denominamos de "Serviço de Desenvolvimento Comunitário". Esta
entidade, de caráter jurídico, desempenhou um papel fundamental na oferta de
serviços essenciais para as famílias mais carentes. Foram realizadas
iniciativas de distribuição de leite e cestas básicas, além de articulações
para instalação de água e luz, com o apoio da Prefeitura. Em parceria com
grupos de catequese e juventude, sob a orientação do padre Fernando e da irmã
Celina, fortalecemos uma rede de apoio que solidificou a identidade
comunitária.
À medida que o bairro crescia, novas casas, estabelecimentos
comerciais e vias surgiam, refletindo o entusiasmo dos moradores. A vida
noturna pulsava em locais como a Danceteria Papagaio, do casal Sebastião e
Jane, e a Discoteca Realce, de propriedade de Sivaldo do Hiper Som. Estes
espaços tornaram-se pontos de encontro dos jovens, embalados por sucessos como
"Jubiabá" (Jerônimo), "Like a Virgin" (Madonna) e
"Thriller" (Michael Jackson).
Em 1985, o Brasil vivenciou uma eleição indireta para a
Presidência da República, que culminou na vitória de Tancredo Neves,
simbolizando o fim da ditadura militar. Contudo, o clima de celebração foi
interrompido quando, durante uma palestra sobre a Inconfidência Mineira,
recebemos a notícia do falecimento de Tancredo. Esse acontecimento marcou de
forma singular o bairro, que seguia seu ritmo de crescimento e de superação dos
tempos sombrios do regime autoritário.
Relembrar o Bairro Valter Cardozo Costa é também destacar a
contribuição de moradores como Antônio Serafim, Zé do Cachorro Quente, Seu
Miguel da Bodega, Seu Luiz do Armarinho, Chico do Abrigo, Aloísio da Farmácia,
Zé do Armarinho, Conradinho, Marinalva do Supermercado Alimentos e Seu Baiano,
entre outros. Essas figuras foram centrais na construção de um bairro que
prosperava e desenvolvia seu próprio espírito comunitário.
As festas juninas das escolas Honduras, Laura Costa, Gilson
Amado e da creche-casulo, onde trabalhei ao lado de dedicadas profissionais
como Dona Lucíola D'Ávila, Dona Helena, Dona Gildete, Dona Josefa, Dona Luiza,
e as professoras Dora, Janisete, Domingas e Suely, trazem à memória momentos de
alegria. Com músicas de Xuxa, Balão Mágico e Trem da Alegria, celebrávamos uma
infância vivida intensamente por toda a comunidade. Hoje, o bairro mantém sua
força e orgulho, feira, comércio ativo e instituições de ensino. Ficam as
lembranças e a saudade latente de uma época que jamais será esquecida.
Genílson Máximo
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