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Anos 80 e 90: a história do Bairro Valter Cardozo Costa, memórias de uma comunidade em construção


A ditadura militar brasileira, instaurada em 1º de abril de 1964, estendeu-se até 15 de março de 1985, sob o comando de uma série de governos militares. Este período deixou marcas profundas na sociedade e na política do país. Em meio a essa conjuntura, no dia 24 de novembro de 1977, nasceu em Estância um dos bairros que se tornaria referência no município: Cidade Nova. Este bairro, inicialmente planejado e fundado pelo então prefeito Valter Cardozo Costa, posteriormente receberia o nome de seu idealizador, passando a ser conhecido como Bairro Valter Cardozo Costa.

Em 1984, quando a ditadura se aproximava do fim, mudei-me para o bairro com todas as minhas coisas. À época, o Bairro Valter Cardozo Costa, com apenas sete anos de existência, já fervilhava em clima de otimismo e promessas para o futuro. A comunidade local vivia um momento de intensa participação e expectativa de dias melhores. Durante dez anos, residi no Conjunto Paulo Amaral, um residencial construído sob o governo de Augusto Franco, que acolhia famílias vindas de diversas partes do país.

Como morador do conjunto, junto a vizinhos como Valmor, Raimundo (Curió), Milo, Roberto, Seu Artur, Dona Nete, Valquíria, Aparecida, Dona Raimunda, Claudite e a professora Nilza, fundamos uma associação comunitária que denominamos de "Serviço de Desenvolvimento Comunitário". Esta entidade, de caráter jurídico, desempenhou um papel fundamental na oferta de serviços essenciais para as famílias mais carentes. Foram realizadas iniciativas de distribuição de leite e cestas básicas, além de articulações para instalação de água e luz, com o apoio da Prefeitura. Em parceria com grupos de catequese e juventude, sob a orientação do padre Fernando e da irmã Celina, fortalecemos uma rede de apoio que solidificou a identidade comunitária.

À medida que o bairro crescia, novas casas, estabelecimentos comerciais e vias surgiam, refletindo o entusiasmo dos moradores. A vida noturna pulsava em locais como a Danceteria Papagaio, do casal Sebastião e Jane, e a Discoteca Realce, de propriedade de Sivaldo do Hiper Som. Estes espaços tornaram-se pontos de encontro dos jovens, embalados por sucessos como "Jubiabá" (Jerônimo), "Like a Virgin" (Madonna) e "Thriller" (Michael Jackson).

Em 1985, o Brasil vivenciou uma eleição indireta para a Presidência da República, que culminou na vitória de Tancredo Neves, simbolizando o fim da ditadura militar. Contudo, o clima de celebração foi interrompido quando, durante uma palestra sobre a Inconfidência Mineira, recebemos a notícia do falecimento de Tancredo. Esse acontecimento marcou de forma singular o bairro, que seguia seu ritmo de crescimento e de superação dos tempos sombrios do regime autoritário.

Relembrar o Bairro Valter Cardozo Costa é também destacar a contribuição de moradores como Antônio Serafim, Zé do Cachorro Quente, Seu Miguel da Bodega, Seu Luiz do Armarinho, Chico do Abrigo, Aloísio da Farmácia, Zé do Armarinho, Conradinho, Marinalva do Supermercado Alimentos e Seu Baiano, entre outros. Essas figuras foram centrais na construção de um bairro que prosperava e desenvolvia seu próprio espírito comunitário.

As festas juninas das escolas Honduras, Laura Costa, Gilson Amado e da creche-casulo, onde trabalhei ao lado de dedicadas profissionais como Dona Lucíola D'Ávila, Dona Helena, Dona Gildete, Dona Josefa, Dona Luiza, e as professoras Dora, Janisete, Domingas e Suely, trazem à memória momentos de alegria. Com músicas de Xuxa, Balão Mágico e Trem da Alegria, celebrávamos uma infância vivida intensamente por toda a comunidade. Hoje, o bairro mantém sua força e orgulho, feira, comércio ativo e instituições de ensino. Ficam as lembranças e a saudade latente de uma época que jamais será esquecida.

 

Genílson Máximo

 


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