O ano era 1998, mês de
janeiro, e uma festa especial estava sendo realizada para os funcionários das
empresas Sulgipe, Ciesa, Caisa, Planel e Fundação. O cenário era a acolhedora
residência do casal formado por Dona Angelina e Doutor Jorge Leite, na Fazenda
Crasto. A celebração se desdobrava em duas etapas: primeiro, com a Sulgipe, e
depois, com as demais empresas.
O dia transcorria repleto
de alegrias e brincadeiras, com uma variedade de pratos que encantavam os
participantes. Funcionários e seus familiares se reuniam em um ambiente
festivo, onde cozinheiras contratadas se revezavam entre a cozinha e o terreiro
do quintal, cuidando dos panelões. Enquanto isso, os convidados desfrutavam do
conforto de cadeiras e mesas sob os toldos.
Dona Angelina, sempre
cordial e atenciosa, circulava entre os presentes, garantindo que todos
estivessem sendo bem servidos e à vontade. Sua gentileza transparecia quando
afirmava: “Qualquer coisa, me procurem. Não tenham vergonha.” A senhora Elza,
sua sobrinha, assumia a responsabilidade de servir frutas, água de coco, sucos,
refrigerantes, cervejas, mariscos, entre outras iguarias.
O evento fluía sem pressa,
envolto em tamanha alegria que os convidados mal percebiam as horas passarem.
Doutor Jorge, deitado numa rede no alpendre, observava tudo com satisfação
estampada no rosto. Dona Angelina, surgindo novamente com uma bandeja de
mudinhas deliciosas, afirmava com orgulho: “Fui eu quem fez.” Sua interação
continuava, distribuindo as guloseimas às mesas, dialogando com adultos e
crianças, conquistando a todos pela simplicidade que nunca abandonara, mesmo
sendo esposa do homem mais rico da região.
Com o sol declinando, Dona Angelina convidava as mães a organizarem as crianças para o almoço. Após alimentar os pequenos, chegava a vez dos adultos. Doutor Jorge, trazendo cocadas de leite e goiaba como sobremesa, enfatizava: “Essas cocadas são feitas por Dona Angelina.” Às 15 horas, todas as crianças eram presenteadas com brinquedos, seguido por sorteios de cestas natalinas conduzidos por Doutor Ivan Leite, proporcionando momentos de exultação. Tive a honra de participar desses eventos entre 1990 e 2012.
Dona Angelina, com sua generosidade inata, guardava uma receita única de xarope que se tornou uma bênção para gripes resistentes aos remédios convencionais. Ela oferecia às mães que tinham filhos com gripes fortes.
No dia 21 de novembro de
2018, a Câmara Municipal de Estância concedeu a ela o título de Cidadania
Estanciana, reconhecendo sua contribuição para a comunidade.
Nascida em 1934, na cidade
sergipana de Maruim, Dona Angelina mudou-se jovem para Estância em busca de
emprego na Fábrica de Tecidos Santa Cruz. Casou-se com o engenheiro Jorge
Leite, construindo uma família que incluía o filho Ivan Leite. Sua vida foi
marcada pelo auxílio aos menos afortunados, pela paixão pelo cultivo de flores
e pela produção de arranjos que embelezavam diversas celebrações da cidade.
Dona Angelina, ao longo de
sua vida, personificou o verdadeiro espírito filantrópico. Seu olhar, permeado
pela generosidade e compaixão, estendia-se além das fronteiras convencionais,
tocando as vidas daqueles que mais precisavam. Seja na organização de eventos
festivos para os funcionários das suas empresas ou na criação de um xarope
milagroso para aliviar gripes, ela dedicava seu tempo e recursos. Sua natureza
altruística não conhecia limites, refletindo-se não apenas nas confraternizações que
promovia, mas também no cultivo de flores que adornavam momentos especiais da
sociedade estanciana. Dona Angelina deixou um legado de benevolência que ecoa
em cada gesto solidário e na lembrança daqueles que foram tocados por sua
inigualável bondade.
No último domingo, 17 de
dezembro, aos 89 anos, Dona Angelina nos deixou. Sua presença e legado
continuarão vivos nas memórias daqueles que tiveram a oportunidade de
compartilhar momentos tão especiais ao seu lado.
Em 18 de dezembro de 2023.
Por: Genílson Máximo
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