Imprensa em Combate: Gazeta de Estância e Nosso Jornal no confronto político de Nivaldo Silva e Carlos Magno
Imagem ilustrativa |
Estância, a "Cidade
Jardim", consagrada por Dom Pedro II, sempre teve sua história entrelaçada
com a comunicação e a imprensa. Uma cidade que tem nos seus teares da imprensa
elevado grau da comunicação, que por muitas décadas, soube usar com precisão os
tipos de metal, inovação para escrita criada pelo artesão e inventor Johannes
Gutenberg. Berço do “Recompilador Sergipano”, o primeiro jornal de Sergipe,
fundado por Monsenhor Silveira em 1832, a cidade transformou a palavra impressa
em uma arena onde as disputas políticas encontravam eco.
Nos anos 1980, essa
tradição jornalística fervilhou em um duelo que transcendeu as páginas dos
jornais e inflamou os ânimos da população.
Entre 1980 e 1988, dois
jornais marcaram época e polarizaram a opinião pública local: a “Gazeta de
Estância”, propriedade do comerciante e opositor político Nivaldo Silva, e o
“Nosso Jornal”, vinculado à prefeitura do então prefeito Carlos Magno. A
rivalidade entre esses dois líderes políticos era acirrada, e seus jornais
tornaram-se armas afiadas nesse embate, com manchetes que destilavam críticas e
respostas contundentes.
A tensão política intensificaram-se após as eleições municipais de 1982, em que Carlos Magno, pelo
PDS, derrotou Nivaldo Silva, que aspirava ocupar o Paço Municipal. A derrota
deixou marcas profundas em Nivaldo, que utilizou a “Gazeta de Estância” como
tribuna para criticar ferozmente a gestão do adversário. Carlos Magno, por sua
vez, revidava por meio do “Nosso Jornal”, transformando o espaço editorial em
um campo de batalha onde as palavras eram munição e a sátira, um veneno
implacável.
Enquanto o Brasil vivia a
transição da ditadura para a democracia e o mundo se agitava com eventos
históricos como o acidente nuclear de Chernobyl e a Perestroika de Gorbachev,
em Estância, a atenção da população era dividida entre a efervescente cultura
da juventude local e o espetáculo das disputas jornalísticas. A “Gazeta de
Estância” e o “Nosso Jornal” eram avidamente consumidos, com suas manchetes
alimentando rodas de conversa e debates acalorados nos quatro cantos da
cidade.
Nivaldo Silva, apelidado
de "santo grande" e "vendedor de azulejo" pelo “Nosso
Jornal”, não escondia sua irritação, respondendo com vigor nas edições
subsequentes de sua Gazeta. Seus redatores, Wanderley Silva, Renato Silva,
Carlos Tadeu, José Cruz, Joel Sobral, padre Fernando Ávila e Tarquínio,
mantinham o tom crítico elevado. Do outro lado, Carlos Magno e seus
colaboradores, como o professor Teles, Raimunda Andrelina, Tuty, Manelão, Dona
Cordélia, Alziro Torres, Carlos Tadeu, Augusto Santos e Genílson Máximo,
devolviam as críticas com humor ácido e manchetes provocativas.
O auge da disputa ocorreu
entre 1984 e 1988, período em que ambos os jornais consolidaram seu papel como
palanques opositores. O “Nosso Jornal” publicava as ações da prefeitura, mas
também não se furtava a responder aos ataques da “Gazeta de Estância”. A
rivalidade extrapolava o campo político, tocando em egos, no orgulho local e
até no imaginário dos leitores, que aguardavam ansiosamente as novas
edições.
Essa troca incessante de
acusações remete às célebres batalhas históricas, como a de Kalinga, em que
guerreiros disputavam cada palmo de terreno. Assim também eram as páginas
desses semanários: um território conquistado a cada manchete, a cada linha
editorial que buscava desqualificar o adversário.
A “Gazeta de Estância”
circulou entre 1980 a 1988, quando encerrou suas atividades, ano que também
marcou o fim da circulação do “Nosso Jornal”, que existiu entre 1984 a 1988.
Contudo, o impacto dessas publicações ressoou além de suas últimas edições.
Elas registraram um momento ímpar da política local, em que as divergências não
apenas marcaram os corredores do poder, mas também as ruas e casas de Estância.
Esse embate entre Nivaldo Silva e Carlos Magno permanece como um capítulo
vívido na memória da cidade. Em 1988, Carlos Magno elege o seu sucessor,
Valter Cardozo (1989/1992).
A gestão de Carlos Magno
enfrentou uma oposição ferrenha da “Gazeta de Estância”, cujo proprietário era
aliado do governador João Alves Filho, fortalecendo ainda mais o movimento
oposicionista. Como diz o ditado, “a política é como nuvens: muda
constantemente”, e isso ficou evidente em 1992, quando Carlos Magno surpreendeu
ao apoiar seu antigo adversário na disputa pela prefeitura, indicando sua
esposa, Sra. Daisy Garcia, como candidata a vice-prefeita na chapa majoritária.
Após a vitória, Nivaldo governou de 1993 até 1994, ano de seu falecimento. Com
isso, Daisy Garcia assumiu a prefeitura, conduzindo o município entre 1995 e
1996.
Por: Genílson Máximo
03 de agosto de 2023
03 de agosto de 2023
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