segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

Imprensa em Combate: Gazeta de Estância e Nosso Jornal no confronto político de Nivaldo Silva e Carlos Magno

Imagem ilustrativa


Estância, a "Cidade Jardim", consagrada por Dom Pedro II, sempre teve sua história entrelaçada com a comunicação e a imprensa. Uma cidade que tem nos seus teares da imprensa elevado grau da comunicação, que por muitas décadas, soube usar com precisão os tipos de metal, inovação para escrita criada pelo artesão e inventor Johannes Gutenberg. Berço do “Recompilador Sergipano”, o primeiro jornal de Sergipe, fundado por Monsenhor Silveira em 1832, a cidade transformou a palavra impressa em uma arena onde as disputas políticas encontravam eco. 

Nos anos 1980, essa tradição jornalística fervilhou em um duelo que transcendeu as páginas dos jornais e inflamou os ânimos da população. 

Entre 1980 e 1988, dois jornais marcaram época e polarizaram a opinião pública local: a “Gazeta de Estância”, propriedade do comerciante e opositor político Nivaldo Silva, e o “Nosso Jornal”, vinculado à prefeitura do então prefeito Carlos Magno. A rivalidade entre esses dois líderes políticos era acirrada, e seus jornais tornaram-se armas afiadas nesse embate, com manchetes que destilavam críticas e respostas contundentes. 

A tensão política intensificaram-se após as eleições municipais de 1982, em que Carlos Magno, pelo PDS, derrotou Nivaldo Silva, que aspirava ocupar o Paço Municipal. A derrota deixou marcas profundas em Nivaldo, que utilizou a “Gazeta de Estância” como tribuna para criticar ferozmente a gestão do adversário. Carlos Magno, por sua vez, revidava por meio do “Nosso Jornal”, transformando o espaço editorial em um campo de batalha onde as palavras eram munição e a sátira, um veneno implacável. 

Enquanto o Brasil vivia a transição da ditadura para a democracia e o mundo se agitava com eventos históricos como o acidente nuclear de Chernobyl e a Perestroika de Gorbachev, em Estância, a atenção da população era dividida entre a efervescente cultura da juventude local e o espetáculo das disputas jornalísticas. A “Gazeta de Estância” e o “Nosso Jornal” eram avidamente consumidos, com suas manchetes alimentando rodas de conversa e debates acalorados nos quatro cantos da cidade. 

Nivaldo Silva, apelidado de "santo grande" e "vendedor de azulejo" pelo “Nosso Jornal”, não escondia sua irritação, respondendo com vigor nas edições subsequentes de sua Gazeta. Seus redatores, Wanderley Silva, Renato Silva, Carlos Tadeu, José Cruz, Joel Sobral, padre Fernando Ávila e Tarquínio, mantinham o tom crítico elevado. Do outro lado, Carlos Magno e seus colaboradores, como o professor Teles, Raimunda Andrelina, Tuty, Manelão, Dona Cordélia, Alziro Torres, Carlos Tadeu, Augusto Santos e Genílson Máximo, devolviam as críticas com humor ácido e manchetes provocativas. 

O auge da disputa ocorreu entre 1984 e 1988, período em que ambos os jornais consolidaram seu papel como palanques opositores. O “Nosso Jornal” publicava as ações da prefeitura, mas também não se furtava a responder aos ataques da “Gazeta de Estância”. A rivalidade extrapolava o campo político, tocando em egos, no orgulho local e até no imaginário dos leitores, que aguardavam ansiosamente as novas edições. 

Essa troca incessante de acusações remete às célebres batalhas históricas, como a de Kalinga, em que guerreiros disputavam cada palmo de terreno. Assim também eram as páginas desses semanários: um território conquistado a cada manchete, a cada linha editorial que buscava desqualificar o adversário. 

A “Gazeta de Estância” circulou entre 1980 a 1988, quando encerrou suas atividades, ano que também marcou o fim da circulação do “Nosso Jornal”, que existiu entre 1984 a 1988. Contudo, o impacto dessas publicações ressoou além de suas últimas edições. Elas registraram um momento ímpar da política local, em que as divergências não apenas marcaram os corredores do poder, mas também as ruas e casas de Estância. Esse embate entre Nivaldo Silva e Carlos Magno permanece como um capítulo vívido na memória da cidade. Em 1988, Carlos Magno elege o seu sucessor, Valter Cardozo (1989/1992).

A gestão de Carlos Magno enfrentou uma oposição ferrenha da “Gazeta de Estância”, cujo proprietário era aliado do governador João Alves Filho, fortalecendo ainda mais o movimento oposicionista. Como diz o ditado, “a política é como nuvens: muda constantemente”, e isso ficou evidente em 1992, quando Carlos Magno surpreendeu ao apoiar seu antigo adversário na disputa pela prefeitura, indicando sua esposa, Sra. Daisy Garcia, como candidata a vice-prefeita na chapa majoritária. Após a vitória, Nivaldo governou de 1993 até 1994, ano de seu falecimento. Com isso, Daisy Garcia assumiu a prefeitura, conduzindo o município entre 1995 e 1996.
 


Por: Genílson Máximo 

 
 
 

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