Publicado em: 11/07/2011
*Marta Angélica
*Marta Angélica
Dia 2 de julho é Dia do Hospital no calendário comemorativo. Aqui nada temos a comemorar, pois estamos num país que investe 6 % do orçamento em saúde (ficando atrás dos países africanos que em média investem 9,6 %) e que no relatório anual da OMS ficou em 151º entre 192 nações avaliadas.
O Hospital Regional Amparo de Maria – Estância (HRAM) está em via de extinção e em processo de intervenção judicial desde 2004, por má gestão do dinheiro público. O HRAM é um Prestador de Serviço ao SUS para região sul do Estado, que recebe tratamento diferenciado dos outros prestadores por não precisar apresentar certidões negativas de débitos com os impostos obrigatórios junto ao município, estado e união, tudo injustamente justificado. A não apresentação de certidões negativas data de muito tempo o que possibilitou o não recolhimento correto e completo das obrigações sociais para com os funcionários, antes e durante a intervenção.
O HRAM está sob gestão estadual. Por TAC – Termo de Ajustamento de Conduta junto ao Ministério Publico Estadual o financiamento do HRAM ficou á cargo do Município de Estância, que repassa o correspondente a média da produção, no valor de 375 000 reais, contemplando a média complexidade da região sul. E também a cargo do Estado completaria 750 000 reais cheio, mensalmente, totalizando mais de 1.000.000 de reais por mês, pagamento total correspondente a três vezes a produção, até que o outro novo hospital estadual inicie suas atividades com serviços iguais ou melhores.
Um parto normal custa ao SUS 291 reais para o médico e hospital e se o HRAM recebe três vezes a tabela do SUS pelo que produz, um parto normal estaria custando 873 reais, ou seja, o médico recebe uma vez o parto e o HRAM recebe mais duas vezes o valor do parto. Pelos planos de saúde, para hospital e médico, o custo médio é 750 reais para o mesmo parto normal em apartamento e em melhores condições de conforto e com acompanhante. As mulheres que estão parindo pelo SUS, naquelas desconfortáveis enfermarias do preparto e do puerpério do HRAM, “pagam” mais que pelos plano de saúde. Quanto ao péssimo estado de conservação do prédio, elevador quebrado, mobiliário enferrujado em nada lembra uma casa que recebe mais de um milhão por mês.
Quanto aos funcionários é emocionante o clamor ouvido “diuturnamente e até noturnamente” por melhores salários e ambiente saudável. Os técnicos e auxiliares de enfermagem tem uma coordenação, a qual para manter a autoridade espalha demissões por (in)justa causa, mas emprega apadrinhados.
Já são quase 4 000 médicos em Sergipe e não se consegue fechar a escala com clinico geral, cirurgião, ortopedista e pediatra. Qual será o motivo? Quando o gestor prioriza competentemente um setor, este funciona como ocorre com as cirurgias eletivas (podem ser realizadas hoje ou no próximo ano). Esta setor esta funcionando tão bem que atende até usuários de Paripiranga-Ba, Lagarto e Aracaju.
O usuário que paga “caríssimo” para ter atendimento pelo SUS tem que ser transferido para outro município por um simples braço luxado. Por mais de um milhão mensalmente é este retorno que a população recebe por seus impostos e fica por isso mesmo; ou termino acreditando que “fazer saúde é caro mesmo”. A sociedade precisa se organizar e saber cobrar o serviço que paga e não recebe e fazer muito mais do que gritar com os funcionários da porta de entrada do hospital como se eles fosse os culpados pela falta do médico.
Este Hospital existe desde 1867, é um patrimônio do povo de Estância. Construído com dinheiro público, depois de usado para eleger vários políticos, está completamente falido e abandonado por todos e tem seus dias contados. Após vários governos estaduais usarem a abusarem do “Amparo de Maria”, o governo atual resolveu construir um novo hospital que pretende prestar os mesmos serviços que o HRAM presta hoje, o que inviabilizará a manutenção de suas portas abertas. Pelo jeito fecharemos antes que o novo hospital seja inaugurado. No meu último plantão uma gestante em trabalho de parto foi transferida para Aracaju por falta de ocitocina, na ambulância do HRAM que quebrou três vezes no trajeto. Quem se imaginaria por um minuto no lugar desta gestante?
“Resumi minimamente” a trajetória de um HOSPITAL que só está amparado no seu próprio nome.
*Marta Angélica Lima Oliveira é médica estanciana formada pela UFS há 30 anos. Servidora pública do município e estado nas especialidades ginecologia, obstetrícia, ultrassonografia e citopatologia.
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