Se me permite destampar o baú de lembranças, trago aqui um episódio daqueles que fariam Noel Rosa rir com o canto desafinado da história. Era início dos anos 80, e eu era parte de uma trupe musical noturna, dessas que desafiam o sono, o bom senso e, às vezes, até a polícia. Era 1983. Enquanto o país começava a apagar as luzes da Ditadura Militar, nós acendíamos as nossas — de lampião emocional, regadas a pandeiro e violão. Éramos quatro: eu, Arlinaldo, David e o inesquecível “Som” — filho do mestre Cocoré, referência quando o assunto era cordas e cutucões rítmos. O palco? As ruas caladas do Porto D’Areia e outras da cidade. Às sextas, por volta das 23h30, o Jardim Velho nos recebia como a um quarteto clássico... de boteco. A voz era afinada na coragem e o repertório brotava do nosso surrado caderninho de letras, onde desfilavam canções de Benito di Paula, Fernando Mendes, José Augusto, Roberto Carlos, Sidney Magal e companhia sentimental. Às vezes, o jovem Unaldo — um quase-ídolo d...