Entre o som do tiro e o silêncio da fome, um menino aprendeu cedo que sobreviver seria sua maior lição
Por Genílson Máximo* Na periferia, onde o Estado raramente chega e a esperança aprende a se esconder, a infância de Charles foi moldada por ausências que pesavam mais do que qualquer presença. Criado entre grades, ruídos e silêncios, ele simboliza milhares de meninos brasileiros órfãos de amparo, de afeto e de oportunidades. Sua história ecoa a pobreza que insiste em atravessar gerações — um som profundo, difícil de calar. O estampido que inaugurou uma vida partida A primeira lembrança de Charles não é o abraço da mãe nem o carinho de um brinquedo. É um estampido. Um tiro cortando a viela. Aos seis anos, ele assistiu ao assassinato do pai — homem que, entre deslizes e escolhas tortas, tentava sobreviver à margem do possível. Aquele disparo não matou apenas um corpo: abriu uma fissura que se estenderia pelos anos, rachando o destino do menino e da família. O episódio inaugurou uma existência sem rede de proteção. Tudo o que veio depois — pobreza, instabilida...