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O Gorgolejo do Peru: uma crônica da corte informal do prefeito

Imagem do verdadeiro peru   Numa cidadezinha interiorana onde até o vento conhece o nome de todo mundo, o prefeito resolveu instituir seu próprio e irresistível protocolo de governo: governar pelo convívio. Médico por formação e anfitrião por vocação (daqueles que sabem receitar antibiótico e feijão-tropeiro na mesma naturalidade), transformou sua casa numa espécie de prefeitura paralela — sem carimbo, sem protocolo, mas com mais cerveja gelada do que qualquer repartição pública jamais ousou sonhar. Nos feriados e fins de semana, ali se acotovelavam secretários municipais, correligionários e agregados, todos unidos pela santa trindade da política regional: conversa boa, amizade sincera e um rango que fazia o povo esquecer até das reclamações da última sessão da Câmara. O estalo das latinhas abrindo ecoava como hino nacional alternativo. E o perfume do feijão-tropeiro — já patrimônio cultural daquela cozinha — pairava como incenso gourmet sobre a área gourmet. Num desses encontros, ...

Estância consolida rede de cuidado, proteção e autonomia econômica para mulheres

Prefeito André e Primeira-dama Cláudia   A Prefeitura de Estância, por meio da Secretaria Municipal de Políticas para a Mulher (SMPM), implementou um conjunto robusto de ações estratégicas para fortalecer o bem-estar, a proteção e o empoderamento feminino. A gestão do prefeito André Graça atua de forma intersetorial, garantindo que as mulheres estancianas tenham acesso facilitado a serviços essenciais de saúde, qualificação profissional e mecanismos eficazes de proteção e suporte financeiro. Na área da saúde, a política de prevenção foi intensificada com a Carreta de Saúde da Mulher (parceria com o SESC), levando exames preventivos e atenção primária à população. A Prefeitura também expandiu o acesso ao Dispositivo Intrauterino (DIU), oferecendo um método contraceptivo seguro de longo prazo. Reconhecendo as demandas de famílias com crianças atípicas, firmou-se um convênio com o Hospital Amparo de Maria para atendimento especializado a crianças neurodivergentes (TEA). O enfrentament...

A Batalha da Tinta: Gazeta de Estância e Nosso Jornal como Armas no Duelo Político entre Nivaldo Silva e Carlos Magno

Imagem ilustrativa Estância, a "Cidade Jardim," consagrada por Dom Pedro II, sempre teve sua história entrelaçada com a imprensa. Berço do “Recompilador Sergipano,” o primeiro jornal de Sergipe, fundado por Monsenhor Silveira em 1832, a cidade perpetuou essa tradição tipográfica de precisão por muitas décadas, transformando a palavra impressa em uma arena onde as disputas políticas encontravam eco. Nos anos 1980, essa tradição eclodiu em um conflito de narrativas, transformando as rotativas em câmaras de eco onde a política local era desmembrada e reescrita diariamente, inflamando os ânimos da população. Entre 1980 e 1988, dois jornais marcaram época e polarizaram a opinião pública: a “Gazeta de Estância”, propriedade do comerciante e opositor visceral Nivaldo Silva, e o “Nosso Jornal”, vinculado à prefeitura do então prefeito Carlos Magno. A rivalidade entre esses líderes era acirrada, e seus jornais tornaram-se armas afiadas nesse embate, com manchetes que destilavam ...

Deu Quiproquó no Forró de Chão Batido

  No ano da graça de 1976, no agreste profundo de um município que só aparece no mapa se a gente der zoom com fé, aconteceu uma das noites mais atrapalhadas já vistas num forrobodó regional. Tudo começou num baile animado por um trio de forró que era uma cópia sem vergonha, mas competente, d’Os 3 do Nordeste. O sanfoneiro era Ganso — um cabra magro feito vara de pescar, mas que tirava som da sanfona como se tivesse pacto com Santo Lua. No zabumba, vinha Mangangão, gordo que só ele, que suava igual tampa de chaleira; e no triângulo, o invocado Saruê, que tocava com tanta empolgação que vez em quando perdia o compasso e seguia mesmo assim, com cara de quem tava certo. A festança se deu numa casa de chão batido, com candeeiro pendurado no meio do salão, balançando como se dançasse também. O dono da casa, Seu Minervino, passava hora em hora com balde d’água pra molhar o chão, senão o chap-chap do chinelo do povo fazia levantar poeira que até gritava por socorro. Nesse tipo de f...

Judite Santeira: quando o barro virou milagre nas mãos de uma mestra

  Existem encontros cuja data a gente até esquece, mas cujo impacto permanece. A minha visita a Dona Judite Santeira foi exatamente assim: a memória falha, mas a tecnologia — essa fofoqueira moderna — registrou lá na foto: novembro de 2005. O empresário Dr. Jorge Leite, dono da Rádio Esperança e apresentador do programa “A Esperança Conversa com Você”, pediu que eu fosse entrevistar a artesã na casa dela, na Rua Zeca do Forte, Cidade Nova. Pedido feito, pedido atendido — e lá estava eu, com pose de repórter da Globo, carregando um mini gravador Sony e uma máquina fotográfica. Então, imagine minha moral ao aparecer na casa de Dona Judite em um carro da empresa, motorista incluso. Cheguei distribuindo pompa sem nem perceber. A porta estava semiaberta, típica casa nordestina em que a hospitalidade entra antes de você tocar. Bati palmas, chamei e fui atendido por uma jovem — a filha da artista. Entrei, sentei, respirei… e aí começou a mágica. A arte que nasceu do improviso Do...

Aniversário de 48 anos: Bairro Valter Cardoso celebra quase meio século de crescimento e protagonismo em Estância

  A visão que transformou a cidade O Bairro Valter Cardoso — a tradicional Cidade Nova — completa, nesta segunda-feira, 24 de novembro, 48 anos de fundação. Criado em 1977, o bairro se consolidou como o mais populoso de Estância e supera, em extensão e número de habitantes, diversos municípios sergipanos, reforçando sua relevância para o desenvolvimento urbano do município. O projeto nasceu da visão ousada do saudoso prefeito Valter Cardoso, autor da Lei nº 550/1977. Em vez de manter na área uma pista de pouso — localizada nas terras do sr. Zeca do Forte —, o gestor decidiu transformá-la em núcleo de expansão da cidade. A iniciativa redefiniu o traçado urbano e marcou definitivamente o futuro de Estância. O marco inicial foi liderado pelo próprio prefeito, ao lado do secretário de Urbanismo, Alizi Cardoso, e do administrador Antônio Serafim. Juntos, traçaram ruas e avenidas a bordo de uma patrol operada por Chico da Patrol. Para auxiliar os moradores, que tinham dois anos p...

Entre o som do tiro e o silêncio da fome, um menino aprendeu cedo que sobreviver seria sua maior lição

  Por Genílson Máximo*   Na periferia, onde o Estado raramente chega e a esperança aprende a se esconder, a infância de Charles foi moldada por ausências que pesavam mais do que qualquer presença. Criado entre grades, ruídos e silêncios, ele simboliza milhares de meninos brasileiros órfãos de amparo, de afeto e de oportunidades. Sua história ecoa a pobreza que insiste em atravessar gerações — um som profundo, difícil de calar.   O estampido que inaugurou uma vida partida A primeira lembrança de Charles não é o abraço da mãe nem o carinho de um brinquedo. É um estampido. Um tiro cortando a viela. Aos seis anos, ele assistiu ao assassinato do pai — homem que, entre deslizes e escolhas tortas, tentava sobreviver à margem do possível. Aquele disparo não matou apenas um corpo: abriu uma fissura que se estenderia pelos anos, rachando o destino do menino e da família. O episódio inaugurou uma existência sem rede de proteção. Tudo o que veio depois — pobreza, instabilida...